terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Impossível


Impossível... essa palavra parece estar me perseguindo ultimamente. Andam inclusive dizendo por aí que é impossível sequer aproximar-se da verdade! O que me parece óbvio, aliás, é que materialmente falando muitas coisas são impossíveis. Deus-Diabão foi bem cuidadoso neste aspecto e as suas criaturas... bem as criaturas deste mundo parecem galinhas mesmo, ou qualquer outro animal domesticável! Pois o que é a domesticação senão uma troca? Sim, aquele que é domesticado, em troca de comida e abrigo fáceis oferece a si próprio ao seu "dono". E eu já nem sei mais se a palavra dono, neste caso, vem ou não com as aspas...

Em algum lugar entregamos nossa liberdade em troca de sei lá o que! E então, ser livre tornou-se mesmo impossível?


Escapar da prisão dos homens já é uma tarefa para poucos, impossível para muitos, vide Nietzsche. O que dizer, então, da prisão construída, ao longo da sua vida, por você mesmo? Imagine a tarefa de derrubar, tijolo por tijolo, o muro que você mesmo construiu! Esta seria a última, única e verdadeira impossibilidade?
É aí, neste momento, que a coragem irá distinguir-me da manada! Neste momento irão dizer-me dos perigos e dos riscos... mas acotece que a picareta, o martelo e a dinamite já estão em mãos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Vá!



Isso é tudo o que eu sempre pude ver...se eu fosse um pássaro, veria mais cores.
Mas, isso é tudo o que eu sempre poderei ver... enquanto eu viver.
Essas cores me cansam agora...essas cores sempre me cansaram!
Isso é tudo, agora.

Parece pouco não? O espectro eletromagnético da luz que nossos olhos podem captar...mas ele é suficiente para que eu te veja. E isto basta. A sua visão é mais do que suficiente para causar, em mim, a revolução necessária neste mundo controlado. E eu me queimo, eu sangro, eu perco partes do meu corpo... E meus olhos nada vêem...através deles tudo permanece igual! Mas o meu coração sabe...sabe até mesmo da limitação do meu globo ocular...e é por isso mesmo que eu não desvio o meu olhar.

E, um dia, totalmente perdido, encontrarei você... e nós nos deitaremos um de frente para o outro... e toda lógica iceberguiana, toda dobra, não terá mais a menor importância.
E mesmo que este dia não dure para sempre...mesmo que depois eu acorde, ainda sendo eu, ainda sendo hoje, por isso mesmo, a liberdade estará nascendo em nós.

Assim, como todos, estaremos sem chão. E eu lhe darei o tempo necessário para entender o por que da minha ausência. E você entenderá, pois será livre, dobrando esquinas sem chão...

O Diabo é fraco e eu não quero te arrastar... não pense que eu não sinto sua falta!
O Diabo é fraco e um dia nós iremos voar... nossas lágrimas não irão se perder na chuva!
O Diabo é fraco e um dia seremos eu e você, os fortes.


Faça, Fuce, Force
Raul Seixas

Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta...
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube essa porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta...

-"Os meus fantasmas são incríveis
Fantásticos, extraordinários!
Se fantasiam de Al Capone
Nas noites que tenho medo de gangsters
Abusam de minha tendência mística
Sempre que possível...
Os meus fantasmas tornaram
Minha solidão em vício
E minha solução em Status Quo
Ai! Meu Deus do Céu!"

Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube essa porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta...

-"Feliz por saber
Que só sei que não sei
E que quem sabe não fala, não diz
Vida, alguma coisa acontece
Morte, alguma coisa pode acontecer
Que o mel é doce é coisa que
Eu me nego afirmar
Mas que parece doce
eu afirmo plenamente"

Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube esta porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta...

sábado, 13 de dezembro de 2008



Chove no deserto! Há música onde antes só se ouvia o vento...
Quando esta chuva passar, sou capaz até de chorar!

Estou sozinho tentando não deixar que minhas lágrimas se percam na chuva!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Estarei sorrindo


Estou cansado... tanta luta, tanto desgaste, e tudo parece ser tão...inútil!!!

Não quero mais ficar brigando com as paredes...só quero mesmo é rir da minha cara quando pareço estar perdido.... eu quero mesmo é poder rir da minha cara de perdido!

Sim, estarei semrpe pronto para qualquer luta que você me chamar... mesmo sabendo que possivelmente estarei entrando em uma luta inútil. E isso porque, ao final da luta, haverá a possibilidade de nós podermos rir!

E quando chegar a hora, quando eu for atingido, quando alguém conseguir me fazer calar...estarei entregando minha última arma, meu próprio sorriso.



Queres saber o que aconselho contra esta melancolia? (Epitáfios Estóicos)

A morte, dizia Epíteto, surpreende o lavrador em sua lavoura, o marinheiro em sua navegação: E tu, em que ocupação queres ser surpreendido?
O sarnento deseja o que irrita a sua sarna.
E não é isso o natural da doença, nada suportar por muito tempo e tomar a mudança como remédio?
Pois enterrar-se não é conservar-se.
Não nos aventuremos jamais a um negócio em que poderíamos correr o risco de ficar sem saída.
O melhor é o menos mal.
Todos os homens participam do mesmo cativeiro, e aqueles que encadeiam os outros não são menos algemados; pois tu não afirmarás, suponho eu, que os ferros são menos pesados quando levados no braço esquerdo.
Toda a vida é uma escravidão.
O que julgamos ser o cume não é mais do que a beira de um abismo.
Aceitemos, pois, todas as coisas superficialmente e suportemo-las com bom humor; pois está mais em conformidade com a natureza humana rir-se da existência do que lamentar-se dela.
Quanto àqueles que querem salvar-se e no limiar da morte se voltam para a vida, é preciso empurrá-los com viva força para seu carrasco.

By Sêneca, in Da Tranqüilidade da Alma, séc. I a.C.

Postado por Kaslu

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Corpo de lama


Nação Zumbi

Este corpo de lama que tu vê
É apenas a imagem que sou
Este corpo de lama que tu vê
É apenas a imagem que é tu

Que o sol não cegue os pensamentos
Mas a chuva muda os sentimentos
Se o asfalto é meu amigo eu caminho
Como aquele grupo de caranguejos
Ouvindo a música dos trovões

Esta chuva de longe que tu vê
É apenas a imagem que sou
Este sol bem de longe que tu vê
É apenas a imagem que é tu

Fiquei apenas pensando que seu rosto
Parece com as minhas idéias
Fiquei apenas lembrando que há muitas garotas
Sorrindo em ruas distantes
Há muitos meninos correndo em mangues distantes

Esta rua de longe que tu vê
É apenas a imagem que sou
Esse mangue de longe que tu vê
É apenas a imagem que é tu

Se o asfalto é meu amigo eu caminho
Como aquele grupo de caranguejos
Ouvindo a música dos trovões

Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente
Sem que sejam forjados para acontecer
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente
Deixai que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes
Como móveis inofensivos para lhe servir quando for preciso
E nunca lhe causar danos
Sejam eles morais físicos ou psicológicos

O clipe está em www.sonhodosbichos.wordpress.com

Taxi Driver


Travis (Robert DeNiro): "A solidão me perseguiu em todos os lugares... em bares, em carros, calçadas, lojas... em tudo. Não há como fugir, sou o solitário do Senhor."

Mais alguma coisa? Ah, sim..."are you talking to me?" - conversa de frente pro espelho!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Nuvem passageira




"Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois esta pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar

A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer, vou me matar
Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar"

hermes de aquino

"E sendo nuvem passageira
Não me leva nem a beira
Disso tudo que eu quero chegar..."

raulzito



PERGUNTAM SEMPRE: MAS O QUE É TRANSFIGURAR?POIS AÍ ESTÁ A RESPOSTA, POBRE ESTÚPIDO,UMA VERDADE QUE DE NADA ADIANTA PARA VOCÊ!!

"Se os desafiadores da morte haviam apenas protelado sua dissolução os Novos Videntes descobriram um caminho novo. Partiram da "Visão" que somos constituídos por duas forças: A consciência e a energia vital. Ao final da vida a consciência é cobrada de volta pela fonte, mas não a energia vital. Por isso os Toltecas descobriram meios de treinar a energia vital para que ela se torne consciente de si, para que ela aprenda com a consciência a arte da consciência, mas aprenda também a não se identificar. Assim a energia vital, sem deixar de ser una e ressonante a toda vida, ganha também um aspecto "singular". Quando chegar o encontro com a Morte, a consciência será devolvida ao "Mar escuro da Consciência" como um rio vai ao mar e se dissolve, mais cedo, logo no delta, ou mais ao largo, continuando mesmo no mar, como correntezas e rios que existem no mar, como seres sobrevivem em planos paralelos a esses, mas tal qual o rio, deixaram suas margens há tempos e sua dissolução é apenas questão de tempo. Os novos Videntes mudam esse matiz. Ao chegar o momento renunciam completamente a esta consciência, deixando-a para a Fonte, mas mantém a "si mesmo" enquanto ente singular, apoiados na energia vital que sustenta o ponto de aglutinação num instante em que ele nada aglutina, num momento de transição. Então, a ousadia suprema, os Novos Videntes Toltecas ousam se incendiar com o fogo da consciência, isto é, entram noutro estado de existência, tomando uma nova "atenção " para si. Este estado do qual é impossível falar é chamado de 3ª Atenção. Chamam também de Liberdade Total e é proposta como a meta final, objetivo de vida de quem se dedica ao Xamanismo Guerreiro Tolteca."
By Nuvem Que Passa

Postado por Kaslu

domingo, 30 de novembro de 2008

Livro de Mirdad: A Grande Nostalgia


Os homens da Pequena Nostalgia são aqueles que, tendo construído um mundo com os seus sentidos, logo o acham pequeno e abafado, e aspiram a um lar maior e mais arejado, mas ao invés de procurarem novos materiais e um novo mestre de obras, empilham o mesmo material e chamam o mesmo arquiteto – os sentidos – para lhes construir o novo lar. E mal este está pronto, acham-no tão pequeno e abafado quanto o velho. Assim, vão demolindo e construindo, sem jamais conseguirem o lar que lhes possa dar o conforto e a liberdade por que anseiam; eis que confiam nos enganadores, para que os livrem dos enganos. Como o peixe que salta da frigideira para o fogo, fogem de uma pequena miragem para serem iludidos por outra maior.

Ente os homens da Grande Nostalgia e os da Pequena Nostalgia está a grande multidão dos homens coelhos que não sentem Nostalgia alguma. Estão satisfeitos em cavar suas tocas, nelas viver, reproduzir-se e morrer: e acham as suas furnas muito elegantes, espaçosas e quentes. Não as trocariam pelos esplendores de um palácio real e zombam dos sonâmbulos, especialmente daqueles que caminham por uma trilha solitária, onde as pegadas são raras e difíceis de serem vistas.

O homem que tem a Grande Nostalgia e se encontra entre os outros homens, é muito semelhante ao filhote de águia chocado pela galinha doméstica junto com a sua ninhada. Seus irmãos-pintinhos e mãe-galinha desejam que o jovem filhote de águia seja tal como eles, com a sua natureza e hábitos, vivendo como eles vivem; e o jovem filhote de águia gostaria de que os outros fossem como ele: sonhando com um ar mais livre e um céu ilimitado. Logo, porém, seus irmãos de ninhada o consideram um estranho e um paria entre eles, e ele recebe bicadas de todos- até mesmo de sua mãe. A voz das alturas, porém, lhe fala no sangue, e a fedentina do galinheiro torna-se insuportável para o seu nariz. No entanto, aceita em silêncio tudo aquilo, até que se encontre completamente emplumado. Abre então as suas asas e se lança ao espaço, com um amoroso olhar de despedida a seus antigos irmãos e a sua mãe que cacareja, alegremente, enquanto cisca a terra em busca de sementes e vermes.

Ah vida! Por mais perguntas que você faça...por mais respostas que eu encontre...a única certeza é minha morte!


Posso ver minha vida como uma planície rasgada por um precipício. Um precipício que eu posso ou não querer atravessar! Acontece que me parece que nem sempre foi assim...este precipício, este rasgo, não existia antes! Não, eu me lembro do terremoto que o causou... e agora eu me sento a beira deste abismo que divide minha vida...e me pergunto: saltarei ou não para o outro lado?

Algo aqui dentro diz: salte logo de uma vez! você nasceu para ir até os limites deste lugar e este abismo é apenas um simples obstáculo que está aqui para ser atravessado!

Mas, ao me levantar, tremo feito vara verde e sinto um vento gélido vindo das profundezas do abismo tocar minha espinha...

Ora, pra que saltar afinal? Posso viver muito bem aqui, deste lado, sem correr tamanho risco...
(risadas)

Ah, eu sei, sim...eu sei! Sei no que minha vida se tornará se eu simplesmente não pular... Primeiro ela se tornará a justificativa de algo que eu não fiz e depois a sombra do que eu poderia ter feito!

Salto então! Acabei de pular, estou em pleno ar e vejo meu corpo atrvessar o abismo...se eu cair morro na certa. Caio em terra firme e tudo continua como antes...nem um minuto se passou!

Mas o cheiro aqui é diferente... eu sou o mesmo, mas o cheiro...olho para tras e não vejo mais o precipício, será que andei tanto assim, seguindo meu faro? Ah, como eu me lembro deste aroma! Agora eu sei, foi por causa dele que saltei!!!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O texto é de Hammadi


Rio de Janeiro. 20:19h Tempo chuvoso. Ventos fortes. Um pequeno abrigo se forma...apenas o suficiente.

Um segundo ou menos, apenas o instante suficiente, ou a quebra temporal percebida...seja como for, o necessário apenas. Após isto algo parece estar diferente. De repente se percebe estar na contramão, na direção oposta à multidão de "não vivos". Ao fundo uma surreal parede verde quase dissimula a presença de um homem singular. Sua camisa, também verde, parece se sobrepor a prévia visão da parede num "deja vu" inquietante. Cenas relevantes passam então em sua mente, como se um fluxo de acontecimentos a tivesse levado àquele local, àquele estado de percepção. Ela chega perto do homem que a olha e lhe diz enigmaticamente: "o caminho é o meio termo". Ele se vai, deixando-a atordada num meio de questionamentos e compreensões velozes se embaralhando num enjôo viceral. O círculo de si mesma, de seu tempo, único tempo, parece fechar-se sobre ela. Algumas horas depois ela me encontra e me conta, como que predestinadamente, sua história. O mundo é de uma solidão intolerável, lhe digo sutilmente. "Todos os deuses são para você exatamente como você deseja que sejam...sempre para você" - insisto em lhe dizer. E quando seus olhos se fixam verdadeiramente no que digo e seus ouvidos se focam na única cena em meio a todas as projeções de sua mente, continuo: "Não acredite que eu exista, esta conversa não é o que você vê. Você está agora mesmo conversando consigo mesma. A questão não é o que lhe digo, mas o porque de você se questionar desta meneira. Pois eu não existo como você me vê, sou apenas uma imagem sua. Só há você aqui, ninguém mais. Esta conversa é só sua, você consigo mesma" . Seus olhos, suas mãos em uma inquietação denunciam seu pensamento, sua preocupação. "Não se preocupe comigo, existe a possibilidade de eu existir como alguém que adentrou seu sonho, porém o mais provável é que eu seja uma criação sua. De qualquer maneira, nada posso dizer que você não possa compreender. Tudo que é compreendido necessariamente já deve estar em você. Portanto não olhe para mim, mesmo que eu lhe diga que há uma saída, que eu lhe diga que é possível acordar. Lá fora é aqui dentro: bem vinda ao deserto do real." Ela sorri inocentemente analisando frases, sentimentos, considerando estados de ser. Antes que o momento a engolfe num redemoinho de esquecimento, continuo: "Não sorria ainda, experimente um pouco a visão real de sua vida de memórias implantadas, imaginadas, seus amores tão reais e tão inventados. Experimente um pouco a vivência de nunca ter tocado alguém que você ama verdadeiramente. Então depois, somente depois diga novamente que realmente quer acordar." Toda sua expressão corporal se conecta. A Verdade flui como um pássaro negro ainda etéro demais para fazê-la sangrar, mas o vento de sua asa adentra seus pulmões e no momento exato entre inspiração e expiração ela ouve através de sua conversa consigo mesma: "LEMBRE-SE".

domingo, 23 de novembro de 2008

A chuva não mata




Minha graça e meu fardo! Contato! Aí está!

Aos que sobraram...aos que sobrevivem...uma homenagem ao nosso destino!

Um brinde às pétalas que insistem cair na nossa pinga!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Roda da vida?


É um tempo de ausência e também não posso afirmar que voltarei a escrever como antes...assim será, sem promessas.
Estou colorindo as paredes do meu quarto de verde e, quando se é sincero, as palavras são poucas e certeiras.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sempre os mesmos rindo



É um mundo louco este o que a gente vive não?
O que não se pode negar é a sua eficiência! Loucura, neurose, fantasias, desejos proibidos...
Que combustível, meu rapaz!!!

"Assine aqui..." Já diria o Diabão (ou será outro?)
E pronto! Um novo mundo, de comidas enlatadas, jornais apocalípticos, compras, festas, ironia e causas justas se abrem aos seus olhos!

"Ora, mas do que você está reclamando, seu rabugento?"

"É verdade, minha cidade é a melhor!" (chacolalha, agita)

"Maldito Beatnik desajustado!"

Com tantos livros de auto-ajuda vendendo que nem água por ai!

Afinal de contas, quer dizer, só porque o mundo cotidiano deve continuar, eu não posso simplesmente...parar?






sábado, 9 de agosto de 2008

Mas há fronteiras


A Praieira
Chico Science

No caminho é que se vê, a praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom, pra ficar pensando melhor
E eu piso onde quiser, você está girando melhor, garota
Na areia onde o mar chegou, a ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!! Segura bem forte a mão
E é praieira !!! Vou lembrando a revolução, vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
E na praia é que se vê, a areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom, pra ficar pensando melhor
E você pode pisar onde quer
Que você se sente melhor
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!! Segura bem forte a mão
E é praieira !!! Vou lembrando a revolução, vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
No caminho é que se vê, a praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom, pra ficar pensando melhor.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Formas que toma o sofrimento durante o sono


Três horas da manhã acabavam de soar, fazia cinco horas que andava daquele jeito, quase sem interrupção, quando deixou-se cair em uma cadeira. Adormeceu e teve um sonho.
Aquele sonho, como a maioria dos sonhos, não tinha ligação com a realidade a não ser por algo de funesto e pungente, mas o impressionou. Aquele pesadelo mexeu de tal forma com ele, que mais tarde o descreveu. E foi esta uma das coisas que deixou escritas de próprio punho. Julgamos dever aqui transcrevê-la textualmente. Qualquer que seja este sonho, a história dessa noite ficaria incompleta se o omitíssemos. É a sombria aventura de uma alma doente.
Ei-lo. No envelope encontramos escritas estas palavras: O sonho que eu tive naquela noite.
"Eu estava em uma campina, era uma campina grande e triste onde não havia vegetação alguma, e não parecia ser nem dia, nem noite.
Eu passeava com meu irmão; o irmão dos meus anos de infância, esse irmão em quem, devo dizer, nunca penso, e do qual quase não me lembro.
Conversávamos e encontrávamos outros passantes. Falávamos de uma vizinha que tínhamos antigamente, e que, desde que morava naquela rua, trabalhava sempre com a janela aberta. Ao mesmo tempo que conversávamos sentíamos frio por causa da tal janela aberta.
Não havia uma só árvore naquela campina.
Vimos um homem que passava perto de nós, completamente nu, cor de cinza, montado em um cavalo cor de terra. Esse homem não tinha cabelos; via-se seu crânio, e sobre este viam-se veias. Trazia na mão uma varinha flexível como vime e pesada como ferro. Esse cavaleiro passou por nós e não nos disse nada.
Meu irmão disse: 'Vamos pelo caminho de baixo'.
Havia um caminho mais baixo onde não se via nem um arbusto, nem um pingo de musgo. Era tudo cor de terra, até o céu. Após alguns passos, ninguém me respondia quando eu falava. Percebi que meu irmão já não estava comigo.
Entrei então em uma aldeia que avistei. Imaginei que devia ser Romainville (por que Romainville?).
A primeira rua em que entrei estava deserta. Entrei na segunda e, atrás do ângulo formado pelas duas ruas, vi um homem de pé, encostado na parede. Perguntei-lhe: que lugar é este? Onde estou? Mas o homem não me respondeu. Vi a porta de uma casa aberta e entrei.
O primeiro quarto estava vazio. Entrei em outro.Atrás da porta desse quarto havia um homem de pé. Perguntei a ele: de quem é essa casa? Onde estou? Mas o homem não me respondeu.
A casa tinha um jardim. Saí da casa e entrei no jardim, que estava deserto. Por trás da primeira árvore encontrei um homem que estava de pé. Perguntei a ele: de quem é este jardim? Onde estou? Mas o homem não me respondeu.
Percorri a aldeia, e percebi que era uma cidade. Todas as ruas estavam desertas, todas as portas estavam abertas. Nenhum ser vivo andava pelas ruas, pelos aposentos ou passeava nos jardins. Mas em cada canto, por trás de cada porta, por trás de cada árvore, havia um homem de pé e calado. Não se via mais do que um em cada lugar, e todos olhavam para mim quando eu passava.
Saí da cidade e me pus a caminhar pela campina.
Daí a algum tempo, voltei-me e vi que uma grande multidão vinha atrás de mim. Reconheci todos os homens que tinha visto na cidade; tinham umas cabeças estranhas. Não pareciam vir depressa, no entanto caminhavam mais rápido que eu. Não faziam barulho algum ao andar. Num abrir e fechar de olhos, aquela multidão alcançou-me e cercou-me. Os rostos daqueles homens eram cor de terra.
Então, o primeiro que eu vira e interrogara quando entrei na cidade disse-me: 'Aonde vai? Não sabe que já morreu há muito tempo?'
Abri a boca para responder e vi que não havia ninguém à minha volta."

Acordou. Estava gelado. Um vento frio como a aragem da manhã fazia girar em seus eixos os caixilhos das vidraças que ficaram abertas. O fogo e a vela quase toda gasta. Era ainda noite fechada.
Leventou-se e foi até a janela. O céu continuava sem estrelas.
De sua janela avistava-se o pátio da casa e a rua. Um ruído seco e duro, que ressoou de repente no chão, fez com que abaixasse os olhos. Viu, abaixo dele, duas estrelas vermelhas cujos raios se alongavam e encolhiam estranhamente no escuro.
Como seu pensamento estava ainda meio submerso em uma atmosfera de sonhos, pensou?
-Oh! Não tem estrelas no céu; agora elas estão na terra.
No entanto aquela pertubação dissipou-se, e um segundo ruído, semelhante ao primeiro, acabou de despertá-lo; olhou e reconheceu que as duas estrelas eram as lanternas de uma carruagem. Pela claridade que lançavam pôde distinguir a forma da tal carruagem. Era um tílburi puxado por um cavalo branco. O ruído que ele ouvira vinha das patas do cavalo batendo no calçamento da rua.
-Que carruagem é essa? - disse consigo. - Quem é que vem a essa hora da noite?
Nesse momento, bateram de leve na porta de seu quarto. Ele estremeceu da cabeça aos pés.
- Quem está aí?
Alguém respondeu:
- Eu, senhor prefeito.
Ele reconheceu a voz da velha zeladora.
- E então - tornou ele -, o que há?
- Logo serão cinco horas da manhã, prefeito.
- E que tenho eu com isso?
- Senhor prefeito, é o cabriolé.
- Que cabriolé?
- O tílburi.
- Que tílburi?
- Então o senhor não tinha encomendado um tílburi?
- Não - disse ele.
- Mas o cocheiro pergunta pelo senhor prefeito.
- Que cocheiro?
- O cocheiro do senhor Scaufflaire.
- Senhor Scaufflaire!
Esse nome o fez estremecer como se um raio tivesse passado diante de seus olhos.
-Ah! Sim! - tornou ele. - O senhor Scaufflaire!
Se a velha pudesse vê-lo naquele momento, ficaria espentada.
Houve um longo silêncio. Ele examinava com ar estúpido a chama da vela, e, da volta do pavio, tirava um pouco de cera quente que embolava nos dedos. A velha esperava, mas, passado algum tempo, aventurou-se ainda a levantar a voz:
- O que devo responder, senhor prefeito?
- Diga que está bem, que já estou indo.

Victor Hugo, Os Miseráveis vol.1, Livro VII "O Caso Champmathieu", cap. IV

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Whiteman, uma história sobre a civilização em crise.


ATENÇÃO, NÃO CAGUE DE MEDO

O pobre e velho Whiteman está à beira de um ataque de nervos! Ele é um produto legítimo da grande depressão!
"Eu tentei! Deus sabe que eu tentei!"

(Whiteman sempre mantém o cabelo arrumado)

"Acho que definitivamente preciso de algum tipo de tratamento!"

- Whiteman!
-Ah...arrãm..ãn...Madame Tetê! Como vai você? He he
-Vi sua esposa na exposição de cães!

(Whiteman usa desodorante proteção 24 horas)

"(suspiro) Tem sido um esforço tão grande ser educado! Mas, se eu parar, eles vão ver...eles vão descobrir...meu verdadeiro eu, lá no fundo...a besta irada e lasciva que deseja apenas uma coisa! SEXO!"

-Slurp (baba)
"Sou tão viril! Eu leio Playboy! Sou fodão!"



"Preciso manter o controle...sou um homem maduro! Um adulto inteligente! Com responsabilidades! Sou um AMERICANO! Um cidadão dos Estados Unidos! Um osso duro de roer! Abre caminho, meu chapa!"
-GrrrrGrrrr
-GrrrGrrr

"Um homem com know-how! Um cidadão em atividade! Preciso manter esta postura rígida ou tudo está perdido! Ufa! É uma tarefa pesada! Pode crer! Me dá dor de cabeça! Meus intestinos se recusam a funcionar...as entranhas pegam fogo...indigestão...azia...

"Ei, ali está um belo exemplar de talento! Se eu tivesse tempo, eu..."
"Uau, um macho de verdade!"



"Mas qual o maldito sentido...não é à toa que meus nervos estão em frangalhos! Acho que vou voltar pro carro. Eu tentei... Deus sabe que eu tentei..."

RRRROARR (lamenta, queixa, resmunga)

"@*§!!!Preso num engarrafamento! Preciso de um drinque!
"Oh não...lá vem de novo...aquela paixão proibida! Aqueles desejos ilícitos...só que...(engasgo)...dessa vez não é sexo! Dessa vez é algo horrível! Impensável! Deus me perdoe...eu quero...eu quero...MATAR"
-Destruir. Cortar. Fatiar. Mutilar.


Duas horas depois
"Me sinto melhoir agora...tomei umas...acho que vou pra casa pegar o noticiário da noite..."

- !
"Que música é essa? Parece um desfile, mas está tão distante..."
-Ei, sinhô! U dia tá nascendo!
- Me deixe em paz!

"Não posso suportar... e se algém me ver neste estado? Neste estado de MEDO!"

-Ruá Ruá
-Vamu puxá as calça dele!
-Tá saindo, Whiteman!
-Rár! Pega o branquelo!
- Não! Por favor! Pensem na minha dignidade...minha família! Socorro! Polícia!
-Ri rá!
-Ruá ráuráu Ráu
-Oh, Deus, estou tão embaraçado!
-Ele está em-bunda-assado Ruáruá
-Chuif

"Como eles puderam fazer isso comigo? Sou o Whiteman!"

-Sim, bem, iscuta cara! Cê é só um NEGÃO como quarqué ôtra pessoa!
-Mas, eu...
-Nem mais, nem menos, saca?
-Fica na paz, painho! Iscuta! Tá ouvindo o riso e cantoria na rua?
-Não escuto nada! Sumam!
-Cara, cê é muito nojento!
-Vamulá, negão! Cê tem música na alma! Lembra?
-Não sei do que você está falando!
-Ora, craro! Ele isqueceu!
-Riiiii!
-Ei, vamulá! Nóis tudo vai pro desfile!
-Maneiro!
-Tô na boa!!!

Será que Whiteman se juntará ao desfile?

"Parece meio bobo...bobagem, idiotice.hmmm, talvez uma outrahora-eu-já é tarde demais. Baixo nível. A que ponto chegamos? Pode ser legal!"

Oh, quem sabe um dia!


Robert Crumb


segunda-feira, 21 de julho de 2008

Street Figth Man


Everywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy
cause summers here and the time is right for fighting in the street, boy
But what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy London town
Theres just no place for a street fighting man
No
Hey! think the time is right for a palace revolution
But where I live the game to play is compromise solution
Well, then what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy London town
Theres no place for a street fighting man
No
Hey! said my name is called disturbance
Ill shout and scream, Ill kill the king, Ill raid at all his servants
Well, what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy London town
Theres no place for a street fighting man
No
The Rolling Stones

domingo, 20 de julho de 2008

Vestígios



7 de novembro de 1998

"Estamos enfrentando alguém que não é normal... tanto física, quanto mentalmente. E é o aspecto mental que me preocupa... porque, pra desvendar esse caso... vou ter que entrar na cabeça desse maluco... pensar como ele... e isso me assusta."
Eu disse isso. Disse há um ano e nada mudou. Ainda é verdade. Continuo assustado. Dietilamida de ácido lisérgico: a dose padrão é cerca de duzentas microgramas, mas como eu peso isso? Dizem que a menor quantidade pode alterar tudo... o mais tênue resíduo. Eu nunca vi os campos antes, só fotografias. Então, esta é a privada onde a gente jogava todas aquelas pessoas...
Quatro tabletes. Eu me pergunto se é o bastante... se é demais! Muito bem. Parecem pedaços de sabão sobre minha língua...a saliva com gosto de papel-alumínio...uma bolha de apreensão se formando no estômago... e engulo sentindo como se me livrasse de alguma coisa. Pronto. Agora, estou acorrentado. A contagem regressiva das entranhas pra circulação, e desta pro cérebro, rumo à decolagem. Mas eu nunca voei antes. O que é pra acontecer? Nada. Nada ainda. É melhor olhar ao redor enquanto ainda é dia.
Estes devem ser os fornos. Fornos pra pessoas. Fornos pra gente. Não adianta. Ainda não parece real. Se soubesse que isso estava acontecendo, eu teria me filiado ao partido? Talvez. Não havia melhor alternativa. Não podíamos permitir que o caos depois da guerra continuasse. Qualquer sociedade é melhor que aquilo. Precisávamos de ordem... ou, pelo menos, eu precisava. Perder Cynth e o pequeno Paul daquela maneira. Tudo estava desintegrando e eu só queria...eu...
- Urrgh!
Eu não devia ter feito isso. Eu não devia ter tomado LSD. Não aqui.
Mas eu queria saber... saber o que é ser como ele... é este lugar. Se eu puder ficar fora até me sentir melhor... é fácil. O portão principal fica logo ali...
Não dá. Não dá pra andar tanto. Minhas pernas parecem gelatina e tudo está retumbando...retumbaaaaannnnnndooooooo...
É a droga. Tenho de lembrar que a droga está fazendo isso, mas... mas dizem que o LSD só intensifica o que já existe! Meu Deus, por que fiz isso justo agora, quando estou tão confuso?
Estou preso num trabalho que me pertuba, mas não pude falar isso pra ninguém. Estou sozinho... tão sozinho.
Oh. Olha... olha! Eles estão sorrindo. Todos estão tão felizes. Meu Deus. Faz tanto tempo... eu tinha esquecido como era variada a cor de suas peles. Milhares de tons de café... as moças que eu via se abraçando nas demonstrações, e os homens tão delicados e de fala macia...
Meu Deus! Que saudade de vocês! Senti falta de suas vozes, do seu caminhar, suas roupas, suas comidas, seus cabelos tingidos de rosa. Meus amigos... no Carnaval, nas passeatas gays. Digam que me vêem além do uniforme. Digam que sabiam que eu me importava. Espere...aonde vocês vão? Por favor... não me deixem!
Nós tratamos vocês tão mal... as coisas odiosas que escrevemos, fizemos, dissemos... por favor, não nos odeiem. Nós fomos burros. Nós éramos crianças. Não sabíamos. Voltem, por favor. Voltem.
- Amo vocês... ahuh. Ahuhuhuh... eu amo vocês...
- Oh, Eric! Você ainda está de pijama! Volte pra cama! Estou preparando ovos com bacon pra gente!
- Delia? Delia, estou tão confuso! Se ao menos pudesse endireitar as coisas...
- Que coisas?
- O que está acontecendo comigo? Eu lembro que vim aqui pra descobrir alguma coisa... algo vital pra várias venturas. Eu pretendia toma uma droga...
- Uma droga? É exatamente o que tenho aqui. Por favor, arregace as mangas... quanto a seus problemas emocionais, talvez você devesse falar com Tony Lilliman. Ele é o nosso padre.
- Lilliman? Pensei que ele fosse um bispo!
-Não. Apenas um peão. Agora, me diga... quando você deixou de acreditar em Deus?
-M-mas... eu não disse...
-Não paparica esse viado! Não tem nada de errado com ele que um bom veneninho não cure!
-Hmm. Talvez tenha razão! Segundo minha experiência, o veneno resolve a maioria dos problemas da vida. Já terminei, Sr. Prothero ele é todo seu.
-O quê? Delia, eles estão me levando embora! Não deixe...
-Vem cá, panaca! Não me irrita!
-Delia? Delia, e nossos ovos com bacon?
- In nomini patri, et filli, et spiitus sancti...
- Delia, por favor! Você não era como eles! Eu sei que não era! Você tinha coração! Por favor, não deixe que façam isto! Delia, você está ouvindo? Eu... oh, não. Huugh...
Como? Como cheguei aqui, a este lugar fétido... ao meu trabalho... à minha vida... à minha prisão... as respostas estão aí, escritas no chão para serem lidas, mas eu não compreendo. Deve ser efeito da droga, mas... mas ele estava drogado também, trancado pra morrer. Mas compreendeu.
Por que não eu? Olho pra esses padrões insanos, mas onde estão as respostas? Quem me aprisionou aqui? Quem me mantém aqui? Quem pode me libertar? Quem está controlando e restringindo minha vida, a não ser...
-...eu? Eu... estou livre. Liiiiivreee!
Voltando a viver, virando, vomitando valores que me vitimizam, vivendo o vasto, virginal... será que ele se sentiu assim? Esta verve, esta vitalidade...esta visão!
La voie... la vérite... la vie.*

Detetive Eric Finch

*a estrada, a verdade a vida.

Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança", Tomo 3 "A Terra do Faça-O-Que-Quiser", cap. 4

Valerie

"Conheço cada centímetro desta cela, cada reentrância no acidentado reboco, como se fosse meu próprio corpo. Não sei onde estou. Só sei que fica escuro, depois claro, que eu acordo e durmo, que o tempo passa medido nos pêlos que crescem nas axilas que eles não me dixam raspar. Não sei que dia é. Sei que uma mulher me escreveu uma carta num papel higiênico. Sei que está sozinha e que me ama. Não sei como ela é. Eu leio a carta, escondo, durmo, acordo, eles interrogam, eu choro, escurece, fica claro de novo, eu leio a carta outra vez... e muitas outras. Seu nome é Valerie...
'EU NASCI EM NOTTINGHAM, EM 1957. CHOVIA UM BOCADO. PASSEI NO TESTE DE AVALIAÇÃO E FUI PRA UMA ESCOLA FEMINIA. EU QUERIA SER ATRIZ. CONHECI MINHA PRIMEIRA NAMORADA NA ESCOLA. SEU NOME ERA SARA. TINHA QUATORZE ANOS E EU, QUINZE. NÓS DUAS ESTÁVAMOS NA CLASSE DA SRTA. WATSON. SUAS MÃOS...ELAS ERAM LINDAS. NA AULA DE BIOLOGIA, CONTEMPLANDO O FETO NO JARRO DE PICLES, FIQUEI OUVINDO A SRA. HIRO DIZER QUE ISSO ERA UMA FASE DA ADOLESCÊNCIA QUE AS PESSOAS SUPERAM. SARA SUPEROU. EU, NÃO. EM 1976, PAREI DE FINGIR E LEVEI UMA NAMORADA, CHRISTINE, PRA CONHECER MEUS PAIS. UMA SEMANA DEPOIS, FUI PRA LONDRES E ME MATRICULEI NA ESCOLA DRAMÁTICA. MAMÃE DISSE QUE PARTI O CORAÇÃO DELA... MAS MINHA INTEGRIDADE ERA MAIS IMPORTANTE. ISSO É EGOÍSMO? PODE NÃO SER MUITO, MAS É TUDO O QUE NOS RESTA AQUI. SÃO NOSSOS ÚLTIMOS CENTÍMETROS...MAS, NELES, NÓS SOMOS LIVRES.'

- Certo. Agora, Srta. Hammond, vamos rever os fatos. Você trabalha para Condinome V. Ele mata autoridades. Peter Creedy é uma autoridade. Ele freqüenta o Kitty-Kat-Keller. Você foi encontrada do lado de fora do estabelecimento com uma arma. Estava planejando matar o Sr. Creedy, sob ordens de Condinome V. Não foi isso que aconteceu, Srta. Hammond?
- Não! Por favor, não é a verdade...
- Por favor, Rossiter!
- Sim.
- Não! Espere! Por favor, não!
'LONDRES. EU ERA FELIZ EM LONDRES. (...) QUERIA MAIS DO QUE AQUILO. O TRABALHO EVOLUIU. CONSEGUI PEQUENOS PAPÉIS EM ALGUNS FILMES. DEPOIS MAIORES. EM 1986, PARTICIPEI DO AS DUNAS DE SAL. GANHOU TODOS OS PRÊMIOS, MAS NÃO O PÚBLICO. CONHECI RUTH TRABALHANDO NELE. NÓS NOS AMÁVAMOS TANTO. FOMOS MORAR JUNTAS. NO DIA DOS NAMORADOS, ELA ME MANDAVA ROSAS. E, DEUS, TÍNHAMOS TANTO. FORAM OS TRÊS MELHORES ANOS DA MINHA VIDA. EM 1988, HOUVE A GUERRA... DEPOIS DISSO, NÃO HOUVE MAIS ROSAS. PRA NINGUÉM. EM 1992, DEPOIS QUE TOMARAM O PODER, COMEÇARAM A PRENDER OS HOMOSSEXUAIS. LEVARAM RUTH ENQUANTO ELA PROCURAVA COMIDA. POR QUE ELES TÊM TANTO MEDO DE NÓS? QUEIMARAM RUTH COM PONTAS DE CIGARRO E FORÇARAM A COITADINHA A DAR NOMES. ELA ASSINOU UMA DECLARAÇÃO DE QUE FOI SEDUZIDA POR MIM. EU NÃO A CULPEI. EU AMAVA RUTH, NÃO PODIA CULPÁ-LA. MAS ELA SIM. RUTH SE MATOU EM SUA CELA. ELA NÃO PÔDE VIVER DEPOIS DE ME TRAIR, APÓS CEDER AQUELES ÚLTIMOS CENTÍMETROS. OH, RUTH... ELES VIERAM ME BUSCAR. DISSERAM QUE TODOS OS MEUS FILMES SERIAM QUEIMADOS. FUI TRAZIDA PRA CÁ E DROGADA. NÃO SINTO MAIS MINHA LÍNGUA E NEM POSSO FALAR. A OUTRA LÉSBICA DAQUI, RITA, MORREU DUAS SEMANAS ATRÁS. ACHO QUE VOU MORRER LOGO TAMBÉM. É ESTRANHO QUE MINHA VIDA POSSA ACABAR NESTE LUGAR HORRÍVEL. MAS, POR TRÊS ANOS, EU RECEBI ROSAS E NÃO TIVE DE PRESTAR CONTAS A NINGUÉM. EU VOU MORRER AQUI. CADA CENTÍMETRO DE MIM MORRERÁ...EXCETO UM. UM SÓ. É PEQUENO E FRÁGIL E É A ÚNICA COISA NO MUNDO QUE AINDA VALE A PENA SE TER. NÃO DEVEMOS JAMAIS PERDÊ-LO, VENDÊ-LO OU ENTREGÁ-LO. NÃO PODEMOS DEIXAR QUE ALGUÉM TIRE DE NÓS. NÃO SEI QUEM VOCÊ É, SE É HOMEM OU MULHER. TALVEZ EU NUNCA O VEJA, NEM TE ABRACE, NEM BEBAMOS JUNTOS...MAS EU TE AMO. ESPERI QUE CONSIGA FUGIR DAQUI. ESPERO QUE O MUNDO MUDE, QUE AS COISAS MELHOREM, E QUE, UM DIA, AS ROSAS VOLTEM. QUERIA PODER TE BEIJAR. VALERIE.'
Conheço cada centímetro desta cela. Ela conhece cada centímetro de mim. Exceto um"



Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança" Tomo 2, "Este Vil Cabaré", cap. 11

sábado, 19 de julho de 2008

Vertente Vocacional

23 de fevereiro de 1998. Horário Nobre.

"Imagino que você esteja se perguntando por que foi chamado aqui esta noite. Sabe, não estou inteiramente satisfeito com seu desempenho nos últimos tempo. Receio que seu trabalho tenha decaído muito e... bem, estamos pensando seriamente em demitir você. Claro... eu sei que está na empresa faz muito tempo. Quase... deixe ver... quase dez mil anos! Deus do céu! O tempo voa, não? Eu me lembro do dia em que você começou no emprego, balançando nas árvores, ainda jovem e muito nervoso, com um osso na mão peluda... Ainda recordo minhas exatas palavras: "Está vendo aquela pilha de ovos de dinossauro?", indaguei, sorrindo paternalmente. " Pode chupar."



Já se passou muito tempo desde aquela época, não é verdade? E, claro, tem toda razão... até hoje, você não faltou um dia. Muito bem, ó servo bom e fiel*. Por favor, não pense que me esqueci da sua admirável folha de serviços, ou das valiosas contribuições que presou à empresa. O fogo, a roda, a agricultura... uma lista respeitável, meu velho. Realmente muito respeitável. Mas... bem, para ser franco, nós andamos tendo problemas. Não se pode fechar os olhos para isso. Na sua indisposição natural para subir dentro da empresa. Você não quer encarar responsabilidades verdadeiras, nem ser seu próprio chefe. Deus sabe quantas oportunidades já teve.


Várias vezes, nós lhe oferecemos promoções, e você sempre recusou. "Isso é muito pra mim, chefia. Eu conheço meu lugar." Para ser franco, você nunca nem tentou. Sabe... como não progride há muito tempo, isso já começa a afetar seu trabalho... e, devo acrescentar, seu padrão de comportamento também. Os constantes desentendimentos na fábrica não escaparam à minha atenção... nem os surtos de desordem na cantina dos funcionários. Além disso, posso citar... hmmm. Bem, eu não queria trazer isso à tona, mas... sabe, andei ouvindo coisas desagradáveis sobre sua vida pessoal. Não. Nada de nomes. Quem me contou, não importa. Estou sabendo que você não consegue mais se entender com sua esposa... me disseram que os dos brigam muito, que você grita... falaram até de violência. Fui informado que você sempre magoa aquela que ama... aquela que jamais deveria magoar. E seus filhos? São sempre as crianças que sofrem, como você bem sabe. Pobrezinhos! O que fizeram para merecer isso?



O que fizeram para merecer sua truculência, seu desespero, sua covardia e todas as intolerâncias cultivadas com tanta estima!
Situação nada boa, não é? E não adianta culpar a gerência pela queda nos padrões de trabalho... embora eu saiba que ela deixa muito a desejar. Na verdade, sem papas na língua...a gerência é deplorável! Nós tivemos uma sucessão de malversadores, larápios e lunáticos tomando um sem-número de decisões catastróficas. Isso é inegável. Mas quem os elegeu? Você! Você indicou essas pessoas. Você deu a elas o poder para tomarem decisões em seu lugar! Claro que qualquer um está sujeito a se equivocar, mas cometer os mesmos erroas fatais, século após século, parece uma atitude deliberada. Você encorajou esses incompetentes, que transformaram sua vida profissional num inferno. Aceitou suas ordens insensatas sem questionar. Sempre permitiu que enchessem seu espaço de trabalho com máquinas perigosas. Você podia ter detido essa gente. Bastava dizer "Não". Você não teve orgulho próprio. Perdeu o valor que tinha na companhia. No entanto, eu serei generoso. Você terá dois anos para aprimorar seu trabalho. Se, ao fim desse período, não apresentar resultados satisfatórios... será cortado.
Isso é tudo pode voltar ao trabalho. As tarefas normais devem começar tão logo seja possível."

Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança", Tomo 2, capítulo 4.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Só agora pareço estar leve suficiente para poder ficar de pé. Caminhar para a saída agora será outro desafio. Minha cabeça gira e dói...talvez porque fazia tempo que meu sangue não circulava. E meus pés...há um espinho em meu pé! E por isso estou mancando, diria um amigo. Mas preciso caminhar, assim mesmo. E preciso seguir uma direção pois não há tempo para andar em círculos. Preciso achar uma saída. Agora!

Então caminho, cambaleante. Posso estar faminto agora, mas nunca estive tão perto de voar, finalmente! Estou sozinho como nunca estive antes, abandonado e com muitas dores.
Sonhos estranhos, rumo ao desconhecido...por incrível que pareça, como todos, estava me acostumando a esta rotina infernal! Não havia parecer existir nada além daqui!
Nosso sangue escorrendo, nossa vida se esvaziando e todos aqui...querendo mais o quê? Aqui, nunca haverá nada a mais!
Não existe Pato Fernando!

A única coisa real, aqui, é a nossa morte! E quem não vê isso, abraça a morte antes do tempo sem nem perceber! Entendido isso, não há mais nada de especial aqui. Pois para todos, tudo continua igual...para mim, o que mudou?
Só segui o meu curso natural...eu tinha que começar a rastejar, pois simplesmente não queria me matar! Agora ando, mancando, a cabeça doendo até não sei quando...talvez ela doa justamente porque esta não é a hora de dormir.

Depois eu durmo. Primeiro a porta.

domingo, 13 de julho de 2008

Cópia



A onda e a sombra

Homem ao mar!
Que importa? O navio não pára. O vento sopra, o sombrio navio continua em sua rota forçada e passa.
O homem desaparece, depois reaparece, mergulha e volta à tona, chama, estende os braços; ninguém o ouve. O navio, estremecendo sobre o tufão, está voltado a suas manobras; nem os marujos nem os passageiros vêem mais o homem submerso; sua cabeça é apenas mais um ponto escuro na imensidão das ondas.
Grita desesperadamente das profundezas. Que espectro essa vela que foge! Olha freneticamente para ela. E ela se afasta, vai desaparecendo, some. Havia pouco ainda ele estava lá, fazia parte da tripulação, ia e vinha no convés com os outros, tinha sua porção de ar e de sol, vivia. Agora, o que havia acontecido? Escorregara, caíra, tudo se acabara.





Está dentro da água, que é monstruosa. Sob os pés, nada mais que ruína, nada encontra. As vagas envolvem-no pavorosamente, rasgadas e sacudidas pelo vento; o vai-e-vem do abismo o empurra; os farrapos das águas agitam-se em volta de sua cabeça; uma multidão de ondas rebenta sobre ele; estranhas aberturas quase o devoram; cada vez que afunda, entrevê precipícios escuros; uma medonha vegetação o prende, emaranha-se em seus pés, o atrai para ela; ele sente se transformar em abismo, fazer parte da espuma; as ondas jogam-no de um lado para o outro; ele bebe o amargo; o oceano, covarde, se empenha em afogá-lo; a imensidão brinca com sua agonia. Parece que toda essa água é ódio.


Mas ele luta.
Tenta defender-se, tenta sustentar-se, esforça-se, nada. Ele, pobre força logo esgotada, combate o inesgotável.
Onde está o navio? Longe. Mal se avista por entre as trevas pálidas do horizonte.
Sompram rajadas; a espuma das ondas o vence. Levanta os olhos e não vê mais a lividez das nuvens. Assiste agonizante ao imenso delírio do mar e é ele o castigado por essa loucura. Ouve ruídos estranhos ao homem, que parecem vir de fora da terra e de algum terrível lugar.
Há pássaros nas nuvens, assim como há anjos por cima dos infortúnios humanos. Mas o que podem fazer por ele? Os pássaros voam, cantam, planam, e ele, agoniza.
Sente-se sepultado ao mesmo tempo por esses dois infinitos: o oceano e o céu; um é o sepulcro, o outro, mortalha.


Vem a noite. Há horas que ele nada, está no fim de suas forças; aquele navio, aquele vulto longíquo onde havia homens, apagou-se; ele está só num formidável turbilhão crepuscular; afunda, se debate, se retorce, sente abaixo monstruosas vagas do invisível; chama.
Não há mais homens. Onde está Deus?
Grita. Alguém! Alguém! Grita sem parar. Nada no horizonte, nada no céu.
Implora ao espaço, à onda, à alga, ao recife; são surdos. Suplica à tempestade; a tempestade, impertubável, só obedece ao infinito.
Em torno dele, escuridão, névoa, solidão, tumulto tempestuoso e inconsciente, redemoinho incessante das águas bravias. Dentro dele, horror e cansaço. Abaixo dele, a desgraça. Nenhum ponto de apoio.
Pensa nas tenebrosas aventuras de um cadáver na escuridão sem limites. Um frio imenso o paralisa. Suas mãos crispam-se, fecham-se e agarram o nada. Ventos, nuvens, turbilhões, rajadas, estrelas inúteis! Que fazer? Desesperado, abandona-se, cansado, deixa-se morrer, não se importa, deixa-se ir, larga mão, para sempre avança pelas lúgubres profundezas da voragem que o engole.

Ó implacável marcha das sociedades humanas! Perda de homens e de almas no meio do caminho! Oceano, onde desaparece tudo o que a lei desampara! Sinistro sumiço de socorro! Ó morte moral!

Mar, a inexorável escuridão social onde a penalidade arremessa seus condenados. Mar, a imensa miséria!
A alma, na correnteza desse abismo, torna-se cadáver. Quem a ressucitará?


Victor Hugo. Os Miseráveis, vol.I Livro Dois "A Queda", cap.VIII


A versão não-censurada é mais provocadora



Nela o programa continua no ar, mas a formiga trabalha se debatendo contra o muro.
Isso tudo porque Raul tinha papel e um grande muro para dar recados.

Como Vovó Já Dizia (Versão Censurada) - Raul Seixas

Quem não tem colírio, usa óculos escuros
Quem não tem colírio, usa óculos escuros
Quem não tem colírio, usa óculos escuros essa luz tá muito forte tenho medo de cegar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros os meus olhos tão manchados com teus raios de luar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros eu deixei a vela acesa para a bruxa não voltar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros acendi a luz do dia para a noite não chiar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro
Quem não tem colírio, usa óculos escuros já bebi daquela água agora quero agora vomitar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros uma vez a gente aceita, duas tem que reclamar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros a serpente está na terra o programa está no ar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros vim de longe de outra terra pra morder teu calcanhar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro
Quem não tem colírio, usa óculos escuros essa noite eu tive um sonho, eu queria me matar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros tudo tá na mesma coisa, cada coisa em seu lugar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros com dois galos a galinha não tem tempo de chocar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros tanto pé na nossa frente que não sabe como andar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro

sábado, 12 de julho de 2008

Nada do que nós já não falamos

I

A música conta a história de alguém que buscou sua heroína e no fim achou somente o deserto. Este deserto, porém, era falso pois ele não cessava a busca por algo irreal. A heroína em questão apenas emprestava seus poderes, cobrando como preço a sua visão de mundo, ainda ilusória.

Os heróis desta Liga também encontraram-se num deserto, cada um seguindo o seu caminho. Ao contrário do anterior, este deserto é real! É ele o único amigo e não é uma mentira! Nenhum Dalai Lama nos poderá guiar-me ao amor, estou sozinho e meu sangue tem que circular, perfeitamente.

A música está aqui porque ela também exprime a situação de quem percebe que nunca nada neste mundo irá bastar enquanto estivermos buscando o que é falso, que a vida se perde e se ganha por debaixo das pontes assim como o Amor.

II

Under The Bridge (Anthony Kiedis)


Sometimes I feel like I dont have a partner
Sometimes I feel like my only friend
Is the city I live in, the city of angel
Lonely as I am, together we cry

I drive on her streets, cause shes my companion
I walk through her hills, cause she knows who I am
She sees my good deeds, and she kisses me windy
I never worry now that is a lie

I dont ever want to feel
Like I did that day
Take me to the place I love
Take me all the way


Its hard to believe that theres nobody out there
Its hard to believe that Im all alone
At least I have her love, the city she loves me
Lonely as I am, together we cry

I dont ever want to feel
Like I did that day
Take me to the place I love
Take me all the way

Under the bridge downtown
Is where I drew some blood
Under the bridge downtown
I could not get enough
Under the bridge downtown
Forgot about my love
Under the bridge downtown
I gave my life away


III
Só agora pareço estar leve suficiente para poder ficar de pé. Caminhar para a saída agora será outro desafio. Minha cabeça gira e dói...talvez porque fazia tempo que meu sangue não circulava. E meus pés...há um espinho em meu pé! E por isso estou mancando, diria um amigo. Mas preciso caminhar, assim mesmo. E preciso seguir uma direção pois não há tempo para andar em círculos. Preciso achar uma saída. Agora!

domingo, 6 de julho de 2008


Mais uma vez apropriando-se de idéias alheias que não deixam de ser minhas...

Tomorrow Never Knows

Turn off your mind, relax and float down stream,
It is not dying, it is not dying

Lay down al thoughts, surrender to the void,
It is shining, it is shining.

Yet you may see the meaning of within
It is being, it is being

Love is all and love is everyone
It is knowing, it is knowing

And ignorance and hate mourn the dead
It is believing, it is believing

But listen to the colour of your dreams
It is not leaving, it is not leaving

So play the game "Existence" to the end
Of the beginning, of the beginning

The Beatles, from Liverpool...

segunda-feira, 30 de junho de 2008


"Pois ele não sentiu a minha falta!"
Afinal, são tantos patos obesos aqui...ainda bem que ele não sentiu a minha falta.
Só agora vejo como o cheiro daqui é insuportável! E como todos parecem não falar sobre nada! Ou falam? Isso não importa mais! Ainda estou pesado demais para andar, mas rastejo nesta lama fétida...


Estou faminto! Mas não vou mais comer daquela gororoba amanteigada.
Não comerei, e não mais farei parte disto que eu nem sei o que é!
Afinal, porque todos estes patos ficam aqui, em cubículos sendo alimentados por humanos?
O que estarão planejando afinal? Há um plano por detrás disto, ou eles simplesmente odeiam os patos?
Minha barriga ronca...estômago vazio, fígado cheio! Que meu fígado livre-se logo de toda esta gordura acumulada para que eu possa finalmente caminhar até a saída.

Há um sentimento aqui, que eu nunca senti antes...nem quando era filhote, nem depois de entrar neste buraco! Quando filhote, corria livre pelo campo e nem sabia que aquilo poderia ser felicidade, pois nem pensava nisso. Era feliz? Fui feliz? Quero ser feliz?
O que eu quero é sair daqui!
É esta a novidade? É este o meu desejo?

Diziam-nos que os patos morriam...mas eles, na verdade, vinham parar aqui para morrer! E, uma vez aqui, aceitavam a sua morte, seguindo os ensinamentos do pato Fernando. Seguindo os ensinamentos, não o exemplo! Afinal, este pato Fernando existiu de fato?

Que sentimento é este? Que só é possível de se sentir quando numa situação dessas? Antes, quando ainda fazia parte dos que comem, também queria fugir, afinal todos querem fugir. Mas agora é diferente...a possibilidade de fuga está acenando! E nela eu vejo o pato Fernando...será que ele existe? Há agora uma possibilidade de ser um pato de verdade?


Mas antes de tudo, espero que meu fígado responda!

quarta-feira, 25 de junho de 2008


Pois então estou cheio...tão cheio que não posso mais me mover. Quack! Um pato gordo...antes meu fígado estivesse inchado de tanto eu beber. Talvez, quem sabe, na loucura, não conseguisse entender, mesmo que momentaneamente, o que se passa por aqui.
Há lendas de uma época em que os patos desviavam de flechas no inverno.
Como posso eu desviar de flechas se estou tão cheio que não posso nem mover uma pata?
Pata esta com espinho, aliás...
Alguém sabe onde fica o banheiro? Se eu pudesse andar até lá...
Talvez eu possa me arrastar...hora do jantar.
Errrr....mmmmm....grrrrrr...Ahhhhhh...esse cano maldito...desce pelo meu esôfago...não tenho chances nem de vomitar!
Ratos...comem o que caiu no chão e aproveitam para roer minhas patas!

Há saída? Minhas patas doem, estou pesado, mas sei que tenho energia...se enfrentar a dor, consigo me arrastar até encontrar um refúgio para me esvaziar...depois voarei para bem longe, como na lenda do pato Fernando. A hora é essa...estou caído no chão, me arrastando como um verme...o espinho entra mais ainda na minha carne e meus músculos parecem sucumbir à dor...
Quem me vê não fala nada, aqui é comum morrer ou enlouquecer de dor...mas todos morrem ou enlouquecem calados...também permaneço calado para não fazer barulho.

Não sei o quão longe consegui chegar...mas aqui mesmo irei me esvaziar! Aqui, neste lugar, me fingindo de morto...
Lá vem o homem, ele quer me alimentar...espero estar suficientemente escuro para que ele não possa me encontrar.

terça-feira, 24 de junho de 2008


RAÍZES PARA FORA, ASAS PARA DENTRO!

Novamente, após uma possibilidade de esvaziamento...caímos de cara no chão!
Pois então, não houve possibilidade nehuma...
Pois então, não chegamos nem a cair...
eu e vc somos os mesmos..continuamos os mesmos...
Com nossas xícaras cheias de suspeitas falsas, levantadas (pasmem!) por nós mesmos...por nós mesmos? POR NÓS MESMOS!!!!
Cheios de argumentação, fechados, violentos, agressivos.
Estúpidos espelhos empoeirados...adultos.

sábado, 21 de junho de 2008


Um professor universitário fez uma longa viagem para visitar um mestre Zen. Ao chegar à cabana do mestre, este percebeu como o professor estava cansado de tanto andar e o mestre pediu que este descansasse enquanto ele preparava um chá. Porém a rápida mente do professor logo começou a trabalhar suas dúvidas, fazendo com que este tagarelasse sem parar. Não só a água do chá fervia naquela ocasião.
Enquanto o professor falava sem parar, o mestre começou a servir o chá, continuando a encher a xícara do professor até que esta estivesse completamente cheia. Mesmo com a xícara já cheia, o mestre continuou a enchê-la.
"Pare! O que você está fazendo? Não cabe mais chá nesta xícara! Você é louco? O que está fazendo?", esbravejou o professor.
"O mesmo acontece com você...Você está alerta para o fato da xícara estar cheia, nada mais podendo conter, mas por que não está assim tão consciente a respeito de você mesmo? Você está transbordando com respeito a opiniões, filosofias, doutrinas, escrituras. Já sabe demais! Nada posso lhe dar...Você viajou em vão! Antes de vir até mim, devia ter esvaziado a sua xícara. Então eu poderia ter despejado algo dentro dela."

Neste momento, o professor percebeu que foi ver o mestre por motivos errados e lançou a xícara contra a parede. Ele percebeu que uma xícara vazia apenas não bastava. Ele a encheria de novo, devido ao seu pavor pelo vazio.