sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O texto é de Hammadi


Rio de Janeiro. 20:19h Tempo chuvoso. Ventos fortes. Um pequeno abrigo se forma...apenas o suficiente.

Um segundo ou menos, apenas o instante suficiente, ou a quebra temporal percebida...seja como for, o necessário apenas. Após isto algo parece estar diferente. De repente se percebe estar na contramão, na direção oposta à multidão de "não vivos". Ao fundo uma surreal parede verde quase dissimula a presença de um homem singular. Sua camisa, também verde, parece se sobrepor a prévia visão da parede num "deja vu" inquietante. Cenas relevantes passam então em sua mente, como se um fluxo de acontecimentos a tivesse levado àquele local, àquele estado de percepção. Ela chega perto do homem que a olha e lhe diz enigmaticamente: "o caminho é o meio termo". Ele se vai, deixando-a atordada num meio de questionamentos e compreensões velozes se embaralhando num enjôo viceral. O círculo de si mesma, de seu tempo, único tempo, parece fechar-se sobre ela. Algumas horas depois ela me encontra e me conta, como que predestinadamente, sua história. O mundo é de uma solidão intolerável, lhe digo sutilmente. "Todos os deuses são para você exatamente como você deseja que sejam...sempre para você" - insisto em lhe dizer. E quando seus olhos se fixam verdadeiramente no que digo e seus ouvidos se focam na única cena em meio a todas as projeções de sua mente, continuo: "Não acredite que eu exista, esta conversa não é o que você vê. Você está agora mesmo conversando consigo mesma. A questão não é o que lhe digo, mas o porque de você se questionar desta meneira. Pois eu não existo como você me vê, sou apenas uma imagem sua. Só há você aqui, ninguém mais. Esta conversa é só sua, você consigo mesma" . Seus olhos, suas mãos em uma inquietação denunciam seu pensamento, sua preocupação. "Não se preocupe comigo, existe a possibilidade de eu existir como alguém que adentrou seu sonho, porém o mais provável é que eu seja uma criação sua. De qualquer maneira, nada posso dizer que você não possa compreender. Tudo que é compreendido necessariamente já deve estar em você. Portanto não olhe para mim, mesmo que eu lhe diga que há uma saída, que eu lhe diga que é possível acordar. Lá fora é aqui dentro: bem vinda ao deserto do real." Ela sorri inocentemente analisando frases, sentimentos, considerando estados de ser. Antes que o momento a engolfe num redemoinho de esquecimento, continuo: "Não sorria ainda, experimente um pouco a visão real de sua vida de memórias implantadas, imaginadas, seus amores tão reais e tão inventados. Experimente um pouco a vivência de nunca ter tocado alguém que você ama verdadeiramente. Então depois, somente depois diga novamente que realmente quer acordar." Toda sua expressão corporal se conecta. A Verdade flui como um pássaro negro ainda etéro demais para fazê-la sangrar, mas o vento de sua asa adentra seus pulmões e no momento exato entre inspiração e expiração ela ouve através de sua conversa consigo mesma: "LEMBRE-SE".

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