sábado, 23 de maio de 2009

— Sabe Eduardo? Estou chorando por sua causa: essa tristeza antecipada diante das fatalidades que a gente não pode mudar...

Seu rádio, pequeno e barato, só funcionava no banheiro, em cima do aparelho sanitário. Sem se preocupar em descobrir a razão, o velho escutava música sentado no bidê.
— Deve ser por causa do encanamento que serve de antena — explicou-lhe Eduardo um dia.
O velho Germano fitou-o longamente, desligou o rádio, levou-o para fora do banheiro:
— Por isso é que você não vai para a frente, meu filho. Entende as coisas demais, quer encontrar explicação para tudo. Era tão simpático da parte dele, só tocando onde bem entendesse. Então minha privadinha é uma antena? Você criou um problema para mim.
— Me desculpe.
— Não tem importância. A princípio eu achava que você fosse anjo, palavra. Custei muito a descobrir que não era.
— E por que não?
— Porque não tem asas. Você já viu anjo sem asas? A única coisa que anjo faz é voar: ir daqui para ali, dali para lá, feito um passarinho. O passarinho é um poema de Deus. Deus é poeta, você sabia? Qual, você conversa direitinho, sabe umas coisas, mas não sabe tudo não. Se sabe, me diga por exemplo: que é o pecado?
E o velho começava a folhear os Evangelhos com os dedos ávidos — um folheto gasto, esfacelado, em tradução portuguesa, distribuído gratuitamente.
— O pecado é tudo que Cristo não fez. Se você, por exemplo...
— Espere, espere. Não seja apressado. Isso que você falou tem coisa, pelo menos parece muito grave. Espere: é tudo que Cristo não fez... Olhe, vou até lhe servir um uísque. Você gosta de uísque?
— Gosto.
— Mas gosta mesmo? Olhe lá, hein?
Servia-lhe um uísque em dose medida rigorosamente:
— Você não é anjo mesmo não. Muito espertinho, discute comigo, toma meu uísque. O que nós estávamos falando? Ah, sim, o pecado: tudo que Cristo não fez? Não, está errado: isso é exagero, você está querendo ser mais cristão que o próprio Cristo. Cismático! Vá embora!
Não quero mais conversar com você.
No dia seguinte, porém, voltava a recebê-lo:
— Sabe de uma coisa, Eduardo? Estive pensando muito em você.
Seu erro fundamental é lembrar em vez de recordar. Há uma diferença entre lembrar e recordar; recordar é reviver, lembrar é apenas saber. O que é recordado fica, o que é lembrado é também esquecido.
— Kierkegaard já disse coisa parecida.
— Já vem você. Quem é esse? O jogador?
— Não: um filósofo dinamarquês.
— Ah! Eu estava confundindo com Friendenreich, aquele jogador de futebol. Pois se ele disse isso, ele é dos bons.
— Ele fala também nas “resoluções negativas”, essas que a gente toma e que em vez de nos suportar, nós é que temos de suportá-las.
O velho ficou pensando.
— É, isso é importante... — comentou afinal, balançando a cabeça: — Você veja, por exemplo, o problema do pecado: a grande dificuldade diante do pecado está em que para combatê-lo temos de tomar resoluções negativas. O homem resolve não pecar, isto é, negar alguma coisa que já existe, para recuperar sua condição original, que não existe ainda.

Encontro Marcado

Estava à janela do hotel, olhando o casario que subia pelo morro. Era de tarde e um sol frio se escondia de Ouro Preto para que a noite baixasse. Viu um cavalo pastando à sombra de uma árvore, uma menina sentada numa pedra. De súbito o cavalo deixou de ser apenas cavalo, a menina deixou de ser menina e tudo — cavalo, árvore, menina, pedra — se tornou uma coisa só, ligada por elementos invisíveis num só bloco, espécie de síntese de todas as coisas criadas...
Eduardo fechou os olhos e esperou, buscando em vão entender os pensamentos soltos que lhe acudiam vertiginosamente. Tornou a olhar e viu o cavalo se mover, vagaroso como um monstro gigantesco de quatro patas, a menina coçar o pé num gesto de experiência milenar e a pedra imóvel a desafiá-lo como um enigma. Um sino pôs-se a tocar na igreja próxima, denunciando o momento suspenso entre a realidade e o mistério. Apoiou-se à parede — seu corpo tremia, o coração disparava e todo ele parecia tocar o mais fundo da angústia. Sim, aquilo era angústia. Num grande esforço tentou ainda ordenar os pensamentos, entender as coisas ao redor — não entendia mais nada.
— Estou perdido — murmurou, deixando-se cair na cama.
Sentia-se inseguro como no instante de se atirar na piscina em dia de competição. Mas isso não era nada: era um estado permanente de angústia, crônico, suportável — era a fragilidade do ser diante da brutalidade e da crueza da vida, mas era ainda a vida, o existir e se saber presente. A evasão da realidade, o vórtice negro em que se sentira cair ali na janela, como num poço, é que era a angústia, o desespero, a negação de si mesmo — o não-ser, o vazio, o nada. Sua testa começou a porejar suor, quando viu que o poço novamente se abria, tudo começava de novo a perder o sentido, suas forças faltavam e ele se agarrava apavorado a uma idéia qualquer para não ser tragado...

domingo, 17 de maio de 2009

Carta de Hélio Peregrino


“O homem, quando jovem, é só, apesar de suas
múltiplas experiências. Ele pretende, nessa
época, conformar a realidade com suas mãos,
servindo-se dela, pois acredita que, ganhando
o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio.
Acontece, entretanto, que nascemos para o
encontro com o outro, e não o seu domínio.
Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua
libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na
sua total e gratuita inutilidade. O começo da
sabedoria consiste em perceber que temos e
teremos as mãos vazias, na medida em que
tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o
mundo. Neste momento, a solidão nos
atravessa como um dardo. É meio-dia em
nossa vida, e a face do outro nos contempla
como um enigma. Feliz daquele que, ao meiodia,
se percebe em plena treva, pobre e nu.
Este é o preço do encontro, do possível encontro
com o outro. A construção de tal possibilidade
passa a ser, desde então, o trabalho do homem
que merece o seu nome.”

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Você acredita na violência?



Legitimamente falando, qual é a nossa real expressão? Violência ou amor? De que forma podemos tocar o próximo no fundo de seu espírito? Com amor ou com violência?

Enfim, palavras doces e gentis são capazes de tocar alguma estrutura além do ego? Palavras são palavras e, sejam elas doces ou ásperas, dificilmente elas nos tocam além do ego. É preciso termos percepção para vermos a intenção por detrás das palavras. O ser que lhe fala ou escreve por acaso é algum desalmado que só quer puxar o seu saco ou ofendê-lo gratuitamente, ou é alguém que está querendo realmente mecher com você, tirá-lo, nem que seja momentaneamente (pois isso basta),  do seu ponto de aglutinação? Entenda ponto de aglutinação por aquela situação em que você se sente confortável mas sem equilíbrio algum, já que qualquer situação-problema causa uma erupção no seu ser.

Mas, antente: a violência não está em quem ofende mas sim em quem responde à ofensa com violência! Sempre é uma questão de ponto de vista!


Somos violentos. Respondemos à violência com mais violência e, assim, reforçamo-as. Mas, por que? Herança genética? Carma? Auto-defesa? Ou simplesmente porque somos tão constantemente reprimidos que, quando abrimos a boca ou fazemos algo, sempre nos expressamos violentamente? São poucas as pessoas que conseguem manter um diálogo humano...são poucos que, ao conversar, escutam com a mesma dedicação com que falam e, ao falar, não defendem opinião pessoal alguma mas apenas colocam um ponto na discussão.


Não estou aqui defendendo nada! Se a violência é a forma legitima de expressão humana, não há nada o que fazer a não ser propor uma ciranda... então, você dança?

sábado, 14 de março de 2009

E essa onda que tu tira??? E essa marra que tu tem???



(...) Com efeito, nada é pequeno; quem quer que tenha experimentado as profundas penetrações da natureza sabe disso. Embora nenhuma satisfação absoluta seja dada à filosofia, quer ao cincunscrever as causas, quer ao limitar os efeitos, quem contempla cai em êxtase sem fim por causa de todas essas decomposições de forças que levam à unidade. Tudo trabalha para tudo.



(...) Os elementos se misturam, se combinam, se casam, se multiplicam uns pelos outros, a ponto de fazerem com que o mundo material e o mundo moral cheguem à mesma claridade. O fenômeno está em perpétua inclinação sobre si mesmo. Nas vastas trocas cósmicas, a vida universal vai e vem em quantidades desconhecidas, empurrando tudo para o invisível mistério dos eflúvios; empregando tudo; não perdendo um só sonho de nenhum sono; semeando um micróbio aqui, fazendo ali um astro em migalhas; oscilando e serpenteando; fazendo da luz uma força e do pensamento um elemento disseminado e indivisível; dissolvendo tudo, menos esse ponto geométrico, o eu; reconduzindo tudo à alma-átomo; desabrochando tudo em Deus; encadeando, desde a mais importante até a mais insignificante, todas as atividades na escuridão de um mecanismo vertiginoso; ligando o voo de um inseto ao movimento da terra; subordinando - quem sabe? -, nem que fosse apenas pela identidade da lei, a evolução do cometa no firmamento ao girar dos fósseis microscópicos na gota de água. Máquina feita de espírito. Enorme engrenagem cujo primeiro motor é o mosquito e a últina roda é o zodíaco.

[polen2.jpg]

Victor Hugo em "Os Miseráveis" 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Uma nova forma de ver

Uma nova forma de ver
A abundância elétrica do coração
Desocultando a minha visão

Atento, agora, ao que sou e faço
Inicio meu propósito
Eliminando o que me é desnecessário

Se isto é paz...se isto é harmonia...
Já não sei, pois eu mesmo não sei
o que esses conceitos vêm a ser

Serenidade... sim, serenidade!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Breakerfall


A música alta pertuba
nossa conversa
O som da guitarra penetra
nos ouvidos e confunde
a atenção

Estamos com nossa saúde em dia
mas a conversa versa sobre assuntos
um tanto quanto... mórbidos

E o som? Bem, a música
vem do quarto de uma pessoa
muito doente... a beira da morte!

Eu não a conheço mas solicitam que eu abaixe o volume...
Pesados são os passos em direção a este quarto
onde alguém agoniza ao som de "Breakerfall"

Minhas pernas vacilam no corredor
Me apóio nas paredes para não cair no chão...
Preciso continuar, abrir aquela porta,
Entrar naquele quarto...

Um pé... outro pé
Um pé... outro pé
Um pé... outro pé

Estou agora de frente para a porta
A abro e lá está...nas paredes,
no teto, no chão, na paisagem...
um lugar espetacularmente familiar!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009




Estamos sentados frente a frente
na beira de um penhasco 
compartilhando um cigarro

O chão treme, minha cadeira vacila
E ameaço cair!
Supero a vertigem, me ponho de pé
E levo minha cadeira para sentar ao seu lado.

E a mesa tomba! Olho para o lado e vejo que você se foi também!
Desco o penhasco a pé e pouco a pouco
Vou recuperando tudo o que havia sobre a mesa...
Um estojo com lápis colorido

No fundo do precipício encontro minha carteira
Com todos meus documentos
Chihiro relembra seu nome!
Mas não encontro você...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Tá certo, resolvi sentar a bunda e escrever... vou escrevendo pra ver se consigo parir algo aqui. Se não, isso quer dizer que não estva gávido! Isso quer dizer que não há nada plantado aqui...issso quer dizer que sou infértil, improdutivo, nulo, um peso...
E, se for isso mesmo, pouco me importo quer saber? Eu tenho desejos sim! Eu quero muitas coisas (nem tanto assim), mas quero! Fico imaginando como seria se eu tivesse alguma companhia, como seria se eu tivesse alguém que pudesse me entender, como seria se eu conhecesse alguem com quem eu pudesse ser quem eu sou de verdade e, no meio dessa choradeira toda, acabo deixando de perceber como eu sou, de verdade, a "crazy fucking luck duck"... é, isso mesmo!  tenho em minha frente a oportunidade de ser como eu sou, mas criado numa família de gansos desperdiçadores de oportunidades... pois eh fácil chorar, dizer que falta o ar, dizer como a vida cotidiana é chata, falar do esforço para continuar a viver uma vida irrisória, sem viço, sem sentido! É fácil culpar a família também! É fácil dizer-se de mentira e é mais fácil ainda verbalizar o desejo se ser uma pessoa de verdade... difícil é ser de verdade, porque isso chama a atenção quando o que eu quero é ser deixado em paz para realizar (e não verbalizar) o que trago em mim. 
Me impressiona o fato de muitas pessoas desejarem a atenção dos outros. Me impressiona essa vontade de ser o centro que irradia luz (ou será trevas?) para todos os lados. Me incomoda profundamente essa dependência de atenção! Porque querer chamar a atenção para si? Para que? E o resultado desastroso disso é que quem quer atenção e se sente bem com isso, logo imagina que isto (a atenção) faz bem e não consegue entender que existem outras pessoas que se incomodam ao terem todos os olhares voltados para si.
Poxa, eu sou só um cara! Não sou comediante, ator dramático, poeta nem qualquer coisa que valha! Não estou guardando nenhum segredo comigo! Querem saber de segredos? Vão ler algum livro que preste! 
Adoro conversar...de verdade, gosto mesmo! Meu desejo? Mutação, transfiguração, iluminação...quer que eu defina? Pois bem... realização total e completa de todo o meu potencial, deixando de usar a minha curta vida como desculpa ou barreira para a relaização deste desejo. Hoje mesmo, estava perambulando no internet, no blog do Kaslu (Me despedi dele sim, mas isso nao me impede de ler suas bobagens...) e me deparei com um conjunto de palavras escritas por Henry Miller:

Percebi que nunca tivera o menor interesse em
viver, mas apenas nisso que estou fazendo
agora, algo que é paralelo à vida, que faz parte
e ao mesmo tempo fica além dela. Absolutamente não
me interessa o que é real. Só me interessa o que eu imagino que é,
aquilo que sufoquei todos os dias a fim de viver.

by Henri Miller, in
Trópico de Capricórnio

Primeiro achei inteligente...depois meio babaca. Mas o que verdadeiramente penso desse texto? Tenho real interesse em viver? Em fazer planos? Se eu morresse agora? Minha vida teria sido suficiente para que minha morte fosse consciente?
Estou diante de uma mutação...de uma pergunta essencial, pois esse pequeno trecho de Henry Miller está para mudar o que penso sobre o que é viver! Que ato é esse que faz parte e, ao mesmo tempo, está além da vida? Qual é o ato paralelo à vida? Afinal de contas, isso existe ou é fruto da mente translouca de Miller? E se for, faria alguma diferença? Não para Miller!

Adoro conversar...odeio aparecer! 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Off he goes ou Lá vai ele

off he goes

pearl jam


Know a man, his face seemed pulled and tense
Like he's riding, on a motorbike in the strongest winds
So I approach with tact, suggest that he should relax
But he's always moving much too fast

Said he'll see me on the flipside
On this trip he's taken for a ride
He's been taking too much on
There he goes with his perfectly unkept clothes
There he goes

He's yet to come back, but I've seen his picture
It doesn't look the same up on the rack
We go way back

And I wonder bout his insides
Its like his thoughts are too big for his size
He's been taken, where I don't know
There he goes with his perfectly unkept hope
There he goes

And now I rub my eyes, for he has returned
Seems my preconceptions are what, should've been burned
For he still smiles, and he's still strong
Nothing's changed but the surrounding bullshit, that has grown

And now he's home, and we're laughing
Like we always did my same old, same old friend
Until a quarter to ten
I saw the strain creep in
He seems distracted and I know just what is going to happen next
Before his first step, He's off again

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Immortality - Pearl Jam

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Parto inacabado


O mito da caverna de Platão... seres humanos que nascem e crescem dentro de uma caverna e lá permanecem acorrentados. Uma fogueira acesa projeta as sombras dos ocupantes nas paredes da caverna e aquela é toda a realidade. Pessoas não-nascidas sem a possibilidade de poderem expressar o que elas são, verdadeiramente! Precisamos nascer! Precisamos dar a devida importância ao vislumbramento causado pela luz do dia!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

KoRn - Blind


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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Da escolha da máscara

E porque também não sair da sala de aula? É uma grande perda os 3 anos de ensino médio, totalmente voltados pro vestibular. Três anos inteiros voltados para uma prova! Não seria melhor, por sua vez, fazer com que os alunos conhecessem o dia a dia da profissão que eles pensam seguir? Por que não colocar os alunos em contato direto com empresas, hospitais, creches, azilos, teatros, etc.? E deixar que esses profissionais mostrem como é estar inserido na sociedade, no caos... enfim, mostrarem-se com e sem as suas máscaras sociais, para que os alunos possam, dessa forma, perceberem aonde eles tem maior capacidade de intervenção!
É totalmente inapropiado centrar o processo didático em uma única esfera disciplinar. O conteúdo abordado na prova dos vestibulares está muito aquém do imenso leque de oportunidades e campos de atuação disponíveis. Além disso, há a questão da decisão, já que é muito difícil atribuir uma faixa etária adequada, pois que a descoberta de si mesmo e do outro - por si mesmo - podem ocorrer em qualquer idade.
Estaria, dessa forma, colocando um pouco de ação na morosidade que é estar numa sala de aula, além de mostrar respeito pela pessoa do aluno, inserido num clima de competição egoísta.

Essas ideias podem até parecer cômicas a muitos professores atuantes, levando-se em conta ainda o fato de que eu sou muito novo e atuo como professor eventual (provisório), provavelmente nada devo saber da elevada tragédia que se passa neste palco. Mas o meu propósito aqui não é contrastar o real com o imaginário, nem colocar minhas ideias no crivo gélido do pessimismo reinante de professores que sequer sabem se comunicar (expressão e comunicação deveriam ser disciplinas obrigatórias nos programas de licenciatura).

A ferida está exposta, aplicaremos o remédio? O que aconteceria, afinal, se os alunos, antes de escolherem qual carreira seguir, pudessem ter um contato real com a profissão desejada? Há, neste momento, algum professor lendo e rindo da minha cara, ironizando minha conduta que procurou não interiorizar nenhuma norma sem antes criticá-la?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mudanças sociais radicais

Existe sentimento mais nobre do que o de querer mudar o mundo? Lhe digo, pois, que só há uma explicação para esta revolta que brota dentro de mim. A de querer mudar o mundo para que eu mesmo possa me adequar a ele e, assim, poder agir plenamente. Nada mais nobre do que isso!
Eu que agora tomo um rumo e sou chamado de professor por pessoas não muito diferentes de mim mesmo, uma profissão tão virtuosa, tão prazerosa e tão trágica! Pois nela, constantemente a "realidade" lhe vem à cara, lhe policiando, lhe dizendo da impossibilidade de se ter prazer dando aulas... por isso a arte, aos poemas as batatas!

E falamos tanto de guerra que falarei também de outra batalha que é travada diariamente entre professores e alunos. Ninguém quer falar sobre isso, mas a guerra está declarada em cada palavra, em cada olhar, no tratamento dirigido, no programa de ensino que poda a critaividade e o questionamento. A mudança é urgente e, ao que me parece, terá que vir como uma imposição mesmo! Imposta, por ser urgente, pois a atmosfera está demasiadamente tóxica!

Tóxicos que de tão venenosos tornaram minha arte feia, sem cores, sem graça... seria, então, válido, usar o tom bélico para pintar o meu quadro? É certo que, de um jeito ou de outro, há necessidade de trazer o belo de volta às aulas. E por que não aproveitar-se do clima beligerante e usá-lo, não na forma de ameaça, mas sim como uma forma de atração?

E daí, deste início beligerante, mostrar que, apesar de todas as repressões sociais vivenciadas na carne e no espírito, temos a nossa disposição infinitas possibilidades. E que podemos ser 3, podemos ser 300! Podemos ser 300, pois esta repressão toda gera descontentamento, e é através dele que se percebe como somos desvalorizados pela lógica econômica, que nos chantageia e corrompe.

E é aí que eu entro exercendo meu outro papel... o de miserável, implorando por diálogo. De que outra forma seria? Que melhor jeito de poder dar oportunidade à liberdade, a não ser permitindo a livre exposição das idéias, proporcionando assim o "conhece-te a ti mesmo" e também a conscientização da responsabilidade pelos atos cometidos, podendo estes serem dignos de ajuizamento ou respeito? Trabalho de formiga, eu sei.

Pois se há injustiça, a culpa não é do mundo! Não há nada mais justo do que o nosso mundo, mas a nossa busca por justiça, nossas legislações, faz com que a justiça mude de tempos em tempos. Assim, cada época apresenta também um modelo de vitória e outro de fracasso. E, em razão disso, aquela justiça capaz de formar pessoas livres e autônomas ainda não me foi apresentada e, se foi, pouco pude dela desfrutar. O que me é permitido realizar em troca do meu salário? O que me é permitido realizar de concreto mesmo, perante a legislação? Já fui soldado, me tornei miserável e passo a ser, agora, escravo de quem legisla?

Não o seria se meu salário valesse o esforço que emprego! Mas, da forma como tudo se apresenta, me vejo sendo desvalorizado. Há alguém, neste mundo, que se propõe a ganhar menos do que merece em favor de um bem comum maior? Que lugar feliz aquele em que todos trabalham em favor de uma comunidade capaz de sustentar seus cidadãos economicamente!

As artes, as artes... o artista busca a liberdade, pois é ali que ele se expressa. Aos poemas as batatas!!!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Em nome....


...da terra, do fogo, da água e do ar, eu te batizo, coração!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

E tem mais Tom Zé!

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Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Tom Zé

Cego com cego


Eu vi o cego lendo a corda da viola
Cego com cego no duelo do sertão
Eu vi o cego dando nó cego na cobra
Vi cego preso na gaiola da visão
Pássaro preto voando pra muito longe
E a cabra cega enxergando a escuridão

Eu vi o pai eu vi a mãe eu vi a filha
Via novilha que é filha da novilhá
Eu vi a réplica da réplica da bíblia
Na invenção dum cantador de ciençá
Vi o cordeiro de deus num ovo vazio
Fiquei com frio te pedi pra me esquentá

Eu via a luz da luz do preto dos seus olhos
Quando o sertão num mar de flor esfloresceu
Sol parabelo para belo sobre a terra
Gente só morre para provar que viveu
Eu vi o não eu vi a bala matadeira
Eu vi o cão, fui nos óio e era eu

Eu vi a lua na cacunda do cometa
Vi a zabumba e o fole a zabumbá
Eu vi o raio quando o, céu todo corisca
E o triângulo engulindo faiscá
Via galáctea branca na galáctea preta
Eu vi o dia e a noite se encontrá

Tom Zé e Zé Miguel Wisnik

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

domingo, 11 de janeiro de 2009

Rosa, verdade humano (Espero, desespero humano)

Estou aqui, "vivendo"
Um dia após o outro...
Comendo, andando, voando
Um dia após o outro...
Me esforçando, para amar para odiar
Um dia após o outro...

Me esforço para acordar, mas só consigo sonhar...
E quando parece que finalmente acordei,
Quando finalmente eu vejo, falo, ouço, toco você:
Acordo do sonho dentro do sonho?

Então, em meio a toda minha vida pseudo-urbana,
Em meio aos ônibus que não preciso pegar
Em meio a toda minha vida urbana, comum,
Ao jornal, revistas, cinema e cafés
Em meio ao cigarro e a cerveja gelada e cachaça quente
E em meio a todos os tipos mais assustadores de
Insetos, vermes, ratos...

Em meio aos meus desejos, tão pequenos
que não valem mais do que o caminhão
de lixo que limpa o condomínio
Eu vejo, cego que sou, através da mão que me segurou
Eu vejo, através do seu calor
Eu vejo, sinestesicamente, além da vertigem
que me deixa tonto...

Sim, eu vejo, só não vejo tudo
Pois tudo o que vejo, imagino.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Eu achei um mapa marcado com um enorme X


"pq todo momento tem que ser vivido como se o último fosse. e é !
mas vc tem que sentir isso."

"esse é seu problema…..vc queria !
vc faz uma coisa, para outra !
mas a outra está no futuro, não existe !
e o seu maior presente lhe escapa pelas mãos…
vc pode se frustrar !"

15 de Agosto de 2008