segunda-feira, 21 de julho de 2008

Street Figth Man


Everywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy
cause summers here and the time is right for fighting in the street, boy
But what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy London town
Theres just no place for a street fighting man
No
Hey! think the time is right for a palace revolution
But where I live the game to play is compromise solution
Well, then what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy London town
Theres no place for a street fighting man
No
Hey! said my name is called disturbance
Ill shout and scream, Ill kill the king, Ill raid at all his servants
Well, what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy London town
Theres no place for a street fighting man
No
The Rolling Stones

domingo, 20 de julho de 2008

Vestígios



7 de novembro de 1998

"Estamos enfrentando alguém que não é normal... tanto física, quanto mentalmente. E é o aspecto mental que me preocupa... porque, pra desvendar esse caso... vou ter que entrar na cabeça desse maluco... pensar como ele... e isso me assusta."
Eu disse isso. Disse há um ano e nada mudou. Ainda é verdade. Continuo assustado. Dietilamida de ácido lisérgico: a dose padrão é cerca de duzentas microgramas, mas como eu peso isso? Dizem que a menor quantidade pode alterar tudo... o mais tênue resíduo. Eu nunca vi os campos antes, só fotografias. Então, esta é a privada onde a gente jogava todas aquelas pessoas...
Quatro tabletes. Eu me pergunto se é o bastante... se é demais! Muito bem. Parecem pedaços de sabão sobre minha língua...a saliva com gosto de papel-alumínio...uma bolha de apreensão se formando no estômago... e engulo sentindo como se me livrasse de alguma coisa. Pronto. Agora, estou acorrentado. A contagem regressiva das entranhas pra circulação, e desta pro cérebro, rumo à decolagem. Mas eu nunca voei antes. O que é pra acontecer? Nada. Nada ainda. É melhor olhar ao redor enquanto ainda é dia.
Estes devem ser os fornos. Fornos pra pessoas. Fornos pra gente. Não adianta. Ainda não parece real. Se soubesse que isso estava acontecendo, eu teria me filiado ao partido? Talvez. Não havia melhor alternativa. Não podíamos permitir que o caos depois da guerra continuasse. Qualquer sociedade é melhor que aquilo. Precisávamos de ordem... ou, pelo menos, eu precisava. Perder Cynth e o pequeno Paul daquela maneira. Tudo estava desintegrando e eu só queria...eu...
- Urrgh!
Eu não devia ter feito isso. Eu não devia ter tomado LSD. Não aqui.
Mas eu queria saber... saber o que é ser como ele... é este lugar. Se eu puder ficar fora até me sentir melhor... é fácil. O portão principal fica logo ali...
Não dá. Não dá pra andar tanto. Minhas pernas parecem gelatina e tudo está retumbando...retumbaaaaannnnnndooooooo...
É a droga. Tenho de lembrar que a droga está fazendo isso, mas... mas dizem que o LSD só intensifica o que já existe! Meu Deus, por que fiz isso justo agora, quando estou tão confuso?
Estou preso num trabalho que me pertuba, mas não pude falar isso pra ninguém. Estou sozinho... tão sozinho.
Oh. Olha... olha! Eles estão sorrindo. Todos estão tão felizes. Meu Deus. Faz tanto tempo... eu tinha esquecido como era variada a cor de suas peles. Milhares de tons de café... as moças que eu via se abraçando nas demonstrações, e os homens tão delicados e de fala macia...
Meu Deus! Que saudade de vocês! Senti falta de suas vozes, do seu caminhar, suas roupas, suas comidas, seus cabelos tingidos de rosa. Meus amigos... no Carnaval, nas passeatas gays. Digam que me vêem além do uniforme. Digam que sabiam que eu me importava. Espere...aonde vocês vão? Por favor... não me deixem!
Nós tratamos vocês tão mal... as coisas odiosas que escrevemos, fizemos, dissemos... por favor, não nos odeiem. Nós fomos burros. Nós éramos crianças. Não sabíamos. Voltem, por favor. Voltem.
- Amo vocês... ahuh. Ahuhuhuh... eu amo vocês...
- Oh, Eric! Você ainda está de pijama! Volte pra cama! Estou preparando ovos com bacon pra gente!
- Delia? Delia, estou tão confuso! Se ao menos pudesse endireitar as coisas...
- Que coisas?
- O que está acontecendo comigo? Eu lembro que vim aqui pra descobrir alguma coisa... algo vital pra várias venturas. Eu pretendia toma uma droga...
- Uma droga? É exatamente o que tenho aqui. Por favor, arregace as mangas... quanto a seus problemas emocionais, talvez você devesse falar com Tony Lilliman. Ele é o nosso padre.
- Lilliman? Pensei que ele fosse um bispo!
-Não. Apenas um peão. Agora, me diga... quando você deixou de acreditar em Deus?
-M-mas... eu não disse...
-Não paparica esse viado! Não tem nada de errado com ele que um bom veneninho não cure!
-Hmm. Talvez tenha razão! Segundo minha experiência, o veneno resolve a maioria dos problemas da vida. Já terminei, Sr. Prothero ele é todo seu.
-O quê? Delia, eles estão me levando embora! Não deixe...
-Vem cá, panaca! Não me irrita!
-Delia? Delia, e nossos ovos com bacon?
- In nomini patri, et filli, et spiitus sancti...
- Delia, por favor! Você não era como eles! Eu sei que não era! Você tinha coração! Por favor, não deixe que façam isto! Delia, você está ouvindo? Eu... oh, não. Huugh...
Como? Como cheguei aqui, a este lugar fétido... ao meu trabalho... à minha vida... à minha prisão... as respostas estão aí, escritas no chão para serem lidas, mas eu não compreendo. Deve ser efeito da droga, mas... mas ele estava drogado também, trancado pra morrer. Mas compreendeu.
Por que não eu? Olho pra esses padrões insanos, mas onde estão as respostas? Quem me aprisionou aqui? Quem me mantém aqui? Quem pode me libertar? Quem está controlando e restringindo minha vida, a não ser...
-...eu? Eu... estou livre. Liiiiivreee!
Voltando a viver, virando, vomitando valores que me vitimizam, vivendo o vasto, virginal... será que ele se sentiu assim? Esta verve, esta vitalidade...esta visão!
La voie... la vérite... la vie.*

Detetive Eric Finch

*a estrada, a verdade a vida.

Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança", Tomo 3 "A Terra do Faça-O-Que-Quiser", cap. 4

Valerie

"Conheço cada centímetro desta cela, cada reentrância no acidentado reboco, como se fosse meu próprio corpo. Não sei onde estou. Só sei que fica escuro, depois claro, que eu acordo e durmo, que o tempo passa medido nos pêlos que crescem nas axilas que eles não me dixam raspar. Não sei que dia é. Sei que uma mulher me escreveu uma carta num papel higiênico. Sei que está sozinha e que me ama. Não sei como ela é. Eu leio a carta, escondo, durmo, acordo, eles interrogam, eu choro, escurece, fica claro de novo, eu leio a carta outra vez... e muitas outras. Seu nome é Valerie...
'EU NASCI EM NOTTINGHAM, EM 1957. CHOVIA UM BOCADO. PASSEI NO TESTE DE AVALIAÇÃO E FUI PRA UMA ESCOLA FEMINIA. EU QUERIA SER ATRIZ. CONHECI MINHA PRIMEIRA NAMORADA NA ESCOLA. SEU NOME ERA SARA. TINHA QUATORZE ANOS E EU, QUINZE. NÓS DUAS ESTÁVAMOS NA CLASSE DA SRTA. WATSON. SUAS MÃOS...ELAS ERAM LINDAS. NA AULA DE BIOLOGIA, CONTEMPLANDO O FETO NO JARRO DE PICLES, FIQUEI OUVINDO A SRA. HIRO DIZER QUE ISSO ERA UMA FASE DA ADOLESCÊNCIA QUE AS PESSOAS SUPERAM. SARA SUPEROU. EU, NÃO. EM 1976, PAREI DE FINGIR E LEVEI UMA NAMORADA, CHRISTINE, PRA CONHECER MEUS PAIS. UMA SEMANA DEPOIS, FUI PRA LONDRES E ME MATRICULEI NA ESCOLA DRAMÁTICA. MAMÃE DISSE QUE PARTI O CORAÇÃO DELA... MAS MINHA INTEGRIDADE ERA MAIS IMPORTANTE. ISSO É EGOÍSMO? PODE NÃO SER MUITO, MAS É TUDO O QUE NOS RESTA AQUI. SÃO NOSSOS ÚLTIMOS CENTÍMETROS...MAS, NELES, NÓS SOMOS LIVRES.'

- Certo. Agora, Srta. Hammond, vamos rever os fatos. Você trabalha para Condinome V. Ele mata autoridades. Peter Creedy é uma autoridade. Ele freqüenta o Kitty-Kat-Keller. Você foi encontrada do lado de fora do estabelecimento com uma arma. Estava planejando matar o Sr. Creedy, sob ordens de Condinome V. Não foi isso que aconteceu, Srta. Hammond?
- Não! Por favor, não é a verdade...
- Por favor, Rossiter!
- Sim.
- Não! Espere! Por favor, não!
'LONDRES. EU ERA FELIZ EM LONDRES. (...) QUERIA MAIS DO QUE AQUILO. O TRABALHO EVOLUIU. CONSEGUI PEQUENOS PAPÉIS EM ALGUNS FILMES. DEPOIS MAIORES. EM 1986, PARTICIPEI DO AS DUNAS DE SAL. GANHOU TODOS OS PRÊMIOS, MAS NÃO O PÚBLICO. CONHECI RUTH TRABALHANDO NELE. NÓS NOS AMÁVAMOS TANTO. FOMOS MORAR JUNTAS. NO DIA DOS NAMORADOS, ELA ME MANDAVA ROSAS. E, DEUS, TÍNHAMOS TANTO. FORAM OS TRÊS MELHORES ANOS DA MINHA VIDA. EM 1988, HOUVE A GUERRA... DEPOIS DISSO, NÃO HOUVE MAIS ROSAS. PRA NINGUÉM. EM 1992, DEPOIS QUE TOMARAM O PODER, COMEÇARAM A PRENDER OS HOMOSSEXUAIS. LEVARAM RUTH ENQUANTO ELA PROCURAVA COMIDA. POR QUE ELES TÊM TANTO MEDO DE NÓS? QUEIMARAM RUTH COM PONTAS DE CIGARRO E FORÇARAM A COITADINHA A DAR NOMES. ELA ASSINOU UMA DECLARAÇÃO DE QUE FOI SEDUZIDA POR MIM. EU NÃO A CULPEI. EU AMAVA RUTH, NÃO PODIA CULPÁ-LA. MAS ELA SIM. RUTH SE MATOU EM SUA CELA. ELA NÃO PÔDE VIVER DEPOIS DE ME TRAIR, APÓS CEDER AQUELES ÚLTIMOS CENTÍMETROS. OH, RUTH... ELES VIERAM ME BUSCAR. DISSERAM QUE TODOS OS MEUS FILMES SERIAM QUEIMADOS. FUI TRAZIDA PRA CÁ E DROGADA. NÃO SINTO MAIS MINHA LÍNGUA E NEM POSSO FALAR. A OUTRA LÉSBICA DAQUI, RITA, MORREU DUAS SEMANAS ATRÁS. ACHO QUE VOU MORRER LOGO TAMBÉM. É ESTRANHO QUE MINHA VIDA POSSA ACABAR NESTE LUGAR HORRÍVEL. MAS, POR TRÊS ANOS, EU RECEBI ROSAS E NÃO TIVE DE PRESTAR CONTAS A NINGUÉM. EU VOU MORRER AQUI. CADA CENTÍMETRO DE MIM MORRERÁ...EXCETO UM. UM SÓ. É PEQUENO E FRÁGIL E É A ÚNICA COISA NO MUNDO QUE AINDA VALE A PENA SE TER. NÃO DEVEMOS JAMAIS PERDÊ-LO, VENDÊ-LO OU ENTREGÁ-LO. NÃO PODEMOS DEIXAR QUE ALGUÉM TIRE DE NÓS. NÃO SEI QUEM VOCÊ É, SE É HOMEM OU MULHER. TALVEZ EU NUNCA O VEJA, NEM TE ABRACE, NEM BEBAMOS JUNTOS...MAS EU TE AMO. ESPERI QUE CONSIGA FUGIR DAQUI. ESPERO QUE O MUNDO MUDE, QUE AS COISAS MELHOREM, E QUE, UM DIA, AS ROSAS VOLTEM. QUERIA PODER TE BEIJAR. VALERIE.'
Conheço cada centímetro desta cela. Ela conhece cada centímetro de mim. Exceto um"



Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança" Tomo 2, "Este Vil Cabaré", cap. 11

sábado, 19 de julho de 2008

Vertente Vocacional

23 de fevereiro de 1998. Horário Nobre.

"Imagino que você esteja se perguntando por que foi chamado aqui esta noite. Sabe, não estou inteiramente satisfeito com seu desempenho nos últimos tempo. Receio que seu trabalho tenha decaído muito e... bem, estamos pensando seriamente em demitir você. Claro... eu sei que está na empresa faz muito tempo. Quase... deixe ver... quase dez mil anos! Deus do céu! O tempo voa, não? Eu me lembro do dia em que você começou no emprego, balançando nas árvores, ainda jovem e muito nervoso, com um osso na mão peluda... Ainda recordo minhas exatas palavras: "Está vendo aquela pilha de ovos de dinossauro?", indaguei, sorrindo paternalmente. " Pode chupar."



Já se passou muito tempo desde aquela época, não é verdade? E, claro, tem toda razão... até hoje, você não faltou um dia. Muito bem, ó servo bom e fiel*. Por favor, não pense que me esqueci da sua admirável folha de serviços, ou das valiosas contribuições que presou à empresa. O fogo, a roda, a agricultura... uma lista respeitável, meu velho. Realmente muito respeitável. Mas... bem, para ser franco, nós andamos tendo problemas. Não se pode fechar os olhos para isso. Na sua indisposição natural para subir dentro da empresa. Você não quer encarar responsabilidades verdadeiras, nem ser seu próprio chefe. Deus sabe quantas oportunidades já teve.


Várias vezes, nós lhe oferecemos promoções, e você sempre recusou. "Isso é muito pra mim, chefia. Eu conheço meu lugar." Para ser franco, você nunca nem tentou. Sabe... como não progride há muito tempo, isso já começa a afetar seu trabalho... e, devo acrescentar, seu padrão de comportamento também. Os constantes desentendimentos na fábrica não escaparam à minha atenção... nem os surtos de desordem na cantina dos funcionários. Além disso, posso citar... hmmm. Bem, eu não queria trazer isso à tona, mas... sabe, andei ouvindo coisas desagradáveis sobre sua vida pessoal. Não. Nada de nomes. Quem me contou, não importa. Estou sabendo que você não consegue mais se entender com sua esposa... me disseram que os dos brigam muito, que você grita... falaram até de violência. Fui informado que você sempre magoa aquela que ama... aquela que jamais deveria magoar. E seus filhos? São sempre as crianças que sofrem, como você bem sabe. Pobrezinhos! O que fizeram para merecer isso?



O que fizeram para merecer sua truculência, seu desespero, sua covardia e todas as intolerâncias cultivadas com tanta estima!
Situação nada boa, não é? E não adianta culpar a gerência pela queda nos padrões de trabalho... embora eu saiba que ela deixa muito a desejar. Na verdade, sem papas na língua...a gerência é deplorável! Nós tivemos uma sucessão de malversadores, larápios e lunáticos tomando um sem-número de decisões catastróficas. Isso é inegável. Mas quem os elegeu? Você! Você indicou essas pessoas. Você deu a elas o poder para tomarem decisões em seu lugar! Claro que qualquer um está sujeito a se equivocar, mas cometer os mesmos erroas fatais, século após século, parece uma atitude deliberada. Você encorajou esses incompetentes, que transformaram sua vida profissional num inferno. Aceitou suas ordens insensatas sem questionar. Sempre permitiu que enchessem seu espaço de trabalho com máquinas perigosas. Você podia ter detido essa gente. Bastava dizer "Não". Você não teve orgulho próprio. Perdeu o valor que tinha na companhia. No entanto, eu serei generoso. Você terá dois anos para aprimorar seu trabalho. Se, ao fim desse período, não apresentar resultados satisfatórios... será cortado.
Isso é tudo pode voltar ao trabalho. As tarefas normais devem começar tão logo seja possível."

Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança", Tomo 2, capítulo 4.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Só agora pareço estar leve suficiente para poder ficar de pé. Caminhar para a saída agora será outro desafio. Minha cabeça gira e dói...talvez porque fazia tempo que meu sangue não circulava. E meus pés...há um espinho em meu pé! E por isso estou mancando, diria um amigo. Mas preciso caminhar, assim mesmo. E preciso seguir uma direção pois não há tempo para andar em círculos. Preciso achar uma saída. Agora!

Então caminho, cambaleante. Posso estar faminto agora, mas nunca estive tão perto de voar, finalmente! Estou sozinho como nunca estive antes, abandonado e com muitas dores.
Sonhos estranhos, rumo ao desconhecido...por incrível que pareça, como todos, estava me acostumando a esta rotina infernal! Não havia parecer existir nada além daqui!
Nosso sangue escorrendo, nossa vida se esvaziando e todos aqui...querendo mais o quê? Aqui, nunca haverá nada a mais!
Não existe Pato Fernando!

A única coisa real, aqui, é a nossa morte! E quem não vê isso, abraça a morte antes do tempo sem nem perceber! Entendido isso, não há mais nada de especial aqui. Pois para todos, tudo continua igual...para mim, o que mudou?
Só segui o meu curso natural...eu tinha que começar a rastejar, pois simplesmente não queria me matar! Agora ando, mancando, a cabeça doendo até não sei quando...talvez ela doa justamente porque esta não é a hora de dormir.

Depois eu durmo. Primeiro a porta.

domingo, 13 de julho de 2008

Cópia



A onda e a sombra

Homem ao mar!
Que importa? O navio não pára. O vento sopra, o sombrio navio continua em sua rota forçada e passa.
O homem desaparece, depois reaparece, mergulha e volta à tona, chama, estende os braços; ninguém o ouve. O navio, estremecendo sobre o tufão, está voltado a suas manobras; nem os marujos nem os passageiros vêem mais o homem submerso; sua cabeça é apenas mais um ponto escuro na imensidão das ondas.
Grita desesperadamente das profundezas. Que espectro essa vela que foge! Olha freneticamente para ela. E ela se afasta, vai desaparecendo, some. Havia pouco ainda ele estava lá, fazia parte da tripulação, ia e vinha no convés com os outros, tinha sua porção de ar e de sol, vivia. Agora, o que havia acontecido? Escorregara, caíra, tudo se acabara.





Está dentro da água, que é monstruosa. Sob os pés, nada mais que ruína, nada encontra. As vagas envolvem-no pavorosamente, rasgadas e sacudidas pelo vento; o vai-e-vem do abismo o empurra; os farrapos das águas agitam-se em volta de sua cabeça; uma multidão de ondas rebenta sobre ele; estranhas aberturas quase o devoram; cada vez que afunda, entrevê precipícios escuros; uma medonha vegetação o prende, emaranha-se em seus pés, o atrai para ela; ele sente se transformar em abismo, fazer parte da espuma; as ondas jogam-no de um lado para o outro; ele bebe o amargo; o oceano, covarde, se empenha em afogá-lo; a imensidão brinca com sua agonia. Parece que toda essa água é ódio.


Mas ele luta.
Tenta defender-se, tenta sustentar-se, esforça-se, nada. Ele, pobre força logo esgotada, combate o inesgotável.
Onde está o navio? Longe. Mal se avista por entre as trevas pálidas do horizonte.
Sompram rajadas; a espuma das ondas o vence. Levanta os olhos e não vê mais a lividez das nuvens. Assiste agonizante ao imenso delírio do mar e é ele o castigado por essa loucura. Ouve ruídos estranhos ao homem, que parecem vir de fora da terra e de algum terrível lugar.
Há pássaros nas nuvens, assim como há anjos por cima dos infortúnios humanos. Mas o que podem fazer por ele? Os pássaros voam, cantam, planam, e ele, agoniza.
Sente-se sepultado ao mesmo tempo por esses dois infinitos: o oceano e o céu; um é o sepulcro, o outro, mortalha.


Vem a noite. Há horas que ele nada, está no fim de suas forças; aquele navio, aquele vulto longíquo onde havia homens, apagou-se; ele está só num formidável turbilhão crepuscular; afunda, se debate, se retorce, sente abaixo monstruosas vagas do invisível; chama.
Não há mais homens. Onde está Deus?
Grita. Alguém! Alguém! Grita sem parar. Nada no horizonte, nada no céu.
Implora ao espaço, à onda, à alga, ao recife; são surdos. Suplica à tempestade; a tempestade, impertubável, só obedece ao infinito.
Em torno dele, escuridão, névoa, solidão, tumulto tempestuoso e inconsciente, redemoinho incessante das águas bravias. Dentro dele, horror e cansaço. Abaixo dele, a desgraça. Nenhum ponto de apoio.
Pensa nas tenebrosas aventuras de um cadáver na escuridão sem limites. Um frio imenso o paralisa. Suas mãos crispam-se, fecham-se e agarram o nada. Ventos, nuvens, turbilhões, rajadas, estrelas inúteis! Que fazer? Desesperado, abandona-se, cansado, deixa-se morrer, não se importa, deixa-se ir, larga mão, para sempre avança pelas lúgubres profundezas da voragem que o engole.

Ó implacável marcha das sociedades humanas! Perda de homens e de almas no meio do caminho! Oceano, onde desaparece tudo o que a lei desampara! Sinistro sumiço de socorro! Ó morte moral!

Mar, a inexorável escuridão social onde a penalidade arremessa seus condenados. Mar, a imensa miséria!
A alma, na correnteza desse abismo, torna-se cadáver. Quem a ressucitará?


Victor Hugo. Os Miseráveis, vol.I Livro Dois "A Queda", cap.VIII


A versão não-censurada é mais provocadora



Nela o programa continua no ar, mas a formiga trabalha se debatendo contra o muro.
Isso tudo porque Raul tinha papel e um grande muro para dar recados.

Como Vovó Já Dizia (Versão Censurada) - Raul Seixas

Quem não tem colírio, usa óculos escuros
Quem não tem colírio, usa óculos escuros
Quem não tem colírio, usa óculos escuros essa luz tá muito forte tenho medo de cegar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros os meus olhos tão manchados com teus raios de luar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros eu deixei a vela acesa para a bruxa não voltar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros acendi a luz do dia para a noite não chiar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro
Quem não tem colírio, usa óculos escuros já bebi daquela água agora quero agora vomitar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros uma vez a gente aceita, duas tem que reclamar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros a serpente está na terra o programa está no ar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros vim de longe de outra terra pra morder teu calcanhar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro
Quem não tem colírio, usa óculos escuros essa noite eu tive um sonho, eu queria me matar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros tudo tá na mesma coisa, cada coisa em seu lugar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros com dois galos a galinha não tem tempo de chocar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros tanto pé na nossa frente que não sabe como andar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro

sábado, 12 de julho de 2008

Nada do que nós já não falamos

I

A música conta a história de alguém que buscou sua heroína e no fim achou somente o deserto. Este deserto, porém, era falso pois ele não cessava a busca por algo irreal. A heroína em questão apenas emprestava seus poderes, cobrando como preço a sua visão de mundo, ainda ilusória.

Os heróis desta Liga também encontraram-se num deserto, cada um seguindo o seu caminho. Ao contrário do anterior, este deserto é real! É ele o único amigo e não é uma mentira! Nenhum Dalai Lama nos poderá guiar-me ao amor, estou sozinho e meu sangue tem que circular, perfeitamente.

A música está aqui porque ela também exprime a situação de quem percebe que nunca nada neste mundo irá bastar enquanto estivermos buscando o que é falso, que a vida se perde e se ganha por debaixo das pontes assim como o Amor.

II

Under The Bridge (Anthony Kiedis)


Sometimes I feel like I dont have a partner
Sometimes I feel like my only friend
Is the city I live in, the city of angel
Lonely as I am, together we cry

I drive on her streets, cause shes my companion
I walk through her hills, cause she knows who I am
She sees my good deeds, and she kisses me windy
I never worry now that is a lie

I dont ever want to feel
Like I did that day
Take me to the place I love
Take me all the way


Its hard to believe that theres nobody out there
Its hard to believe that Im all alone
At least I have her love, the city she loves me
Lonely as I am, together we cry

I dont ever want to feel
Like I did that day
Take me to the place I love
Take me all the way

Under the bridge downtown
Is where I drew some blood
Under the bridge downtown
I could not get enough
Under the bridge downtown
Forgot about my love
Under the bridge downtown
I gave my life away


III
Só agora pareço estar leve suficiente para poder ficar de pé. Caminhar para a saída agora será outro desafio. Minha cabeça gira e dói...talvez porque fazia tempo que meu sangue não circulava. E meus pés...há um espinho em meu pé! E por isso estou mancando, diria um amigo. Mas preciso caminhar, assim mesmo. E preciso seguir uma direção pois não há tempo para andar em círculos. Preciso achar uma saída. Agora!

domingo, 6 de julho de 2008


Mais uma vez apropriando-se de idéias alheias que não deixam de ser minhas...

Tomorrow Never Knows

Turn off your mind, relax and float down stream,
It is not dying, it is not dying

Lay down al thoughts, surrender to the void,
It is shining, it is shining.

Yet you may see the meaning of within
It is being, it is being

Love is all and love is everyone
It is knowing, it is knowing

And ignorance and hate mourn the dead
It is believing, it is believing

But listen to the colour of your dreams
It is not leaving, it is not leaving

So play the game "Existence" to the end
Of the beginning, of the beginning

The Beatles, from Liverpool...