quarta-feira, 4 de junho de 2008

Caleidoscópio


Fernando Pessoa


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

3 comentários:

Anônimo disse...

NEM SEMPRE SERÁ ASSIM




Deitarei mais uma vez ao seu lado
Frágil
Perdido
Sem saber qual é meu sentido
Qual minha dor
Profunda...
Para além das dobras marcas
Dos reflexos diários
Sou triste, e essa busca de felicidade me perturba.
Eu a olho como se fosse uma traição
Um desgosto
Uma falta de carinho com o que ainda há de bom na vida

Deitarei mais uma vez ao seu lado
Mas não será para sempre
Não será sempre assim
Não porque não queira
Não porque, minha vida, não a considere!
Mas a dor, profunda,
É contaminadora do sentido
Tingindo
Colorindo
Manchando
O que há de mais branco
Mais eterno
Mais puro
Mais perene

Deitarei mais uma vez ao seu lado
Mas nem mesmo você, apesar da sua potência, sabe se essa será mais uma ou a última vez...
Pois anseio por liberdade....
E sua liberdade também depende da minha tempestade
Por isso sabemos que nem sempre será assim
Bem deitado a seu lado te amarei sempre como se fosse a última vez!
(por kaslu)

Anônimo disse...

Quem tem alma não tem calma

Anônimo disse...

touché kaslu, touché !

quem tem alma, não tem calma !