Já se passou muito tempo desde aquela época, não é verdade? E, claro, tem toda razão... até hoje, você não faltou um dia. Muito bem, ó servo bom e fiel*. Por favor, não pense que me esqueci da sua admirável folha de serviços, ou das valiosas contribuições que presou à empresa. O fogo, a roda, a agricultura... uma lista respeitável, meu velho. Realmente muito respeitável. Mas... bem, para ser franco, nós andamos tendo problemas. Não se pode fechar os olhos para isso. Na sua indisposição natural para subir dentro da empresa. Você não quer encarar responsabilidades verdadeiras, nem ser seu próprio chefe. Deus sabe quantas oportunidades já teve.
Várias vezes, nós lhe oferecemos promoções, e você sempre recusou. "Isso é muito pra mim, chefia. Eu conheço meu lugar." Para ser franco, você nunca nem tentou. Sabe... como não progride há muito tempo, isso já começa a afetar seu trabalho... e, devo acrescentar, seu padrão de comportamento também. Os constantes desentendimentos na fábrica não escaparam à minha atenção... nem os surtos de desordem na cantina dos funcionários. Além disso, posso citar... hmmm. Bem, eu não queria trazer isso à tona, mas... sabe, andei ouvindo coisas desagradáveis sobre sua vida pessoal. Não. Nada de nomes. Quem me contou, não importa. Estou sabendo que você não consegue mais se entender com sua esposa... me disseram que os dos brigam muito, que você grita... falaram até de violência. Fui informado que você sempre magoa aquela que ama... aquela que jamais deveria magoar. E seus filhos? São sempre as crianças que sofrem, como você bem sabe. Pobrezinhos! O que fizeram para merecer isso?
O que fizeram para merecer sua truculência, seu desespero, sua covardia e todas as intolerâncias cultivadas com tanta estima!
Isso é tudo pode voltar ao trabalho. As tarefas normais devem começar tão logo seja possível."
Allan Moore & David Lloyd em "V de Vingança", Tomo 2, capítulo 4.
Um comentário:
*Servo fiel
Referência a um trecho de uma das parábolas atribuídas a Jesus, que se encontra no evangelho de São Mateus, capítulo 25, versículos 14 a 30.
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